Pedalar virou moda na cidade (já estava na hora), mas os perigos infelizmente ainda existem.
Hoje, se observarmos – por poucos minutos que seja – as ruas da cidade de São Paulo, veremos diversos ciclistas indo e vindo. Nos jornais, revistas e TV, bicicleta é pauta de reportagens dos mais variados temas, mesmo que não sejam animadores. Até a prefeitura tem mostrado interesse no assunto construindo ciclovias, ciclofaixas e rotas de bicicleta em diferentes bairros paulistas. Sim, sabemos que elas não são muito funcionais: a ciclofaixa de Moema é extremamente mal planejada e cheia de buracos; as ciclovias da Sumaré e Faria Lima – que ficam na calçada entre as duas pistas das avenidas – são uma piada; a ciclovia Caminho Verde (Zona Leste) está em melhores condições, mas ainda muito longe do ideal. Entretanto, tem de ser valorizada a iniciativa do governo nesse sentido.
Contudo, a grande esperança dos ciclistas é a ciclovia do Rio Pinheiros. Atualmente com um pouco mais de 21km (indo de Interlagos até o Parque Villa-Lobos) é a maior via exclusiva para bicicletas da capital. Fica entre o Rio e a linha de trem da CPTM e, por conta disso, precisa de acessos exclusivos para possibilitar a chegada de quem quiser utilizá-la. Os cinco acessos que a ciclovia tem hoje é muito pouco para o seu tamanho – dá um a cada 4,2 km em média. Além disso, ela funciona somente até às 18h15. Por esses fatores ainda é utilizada mais como lazer do que como uma via de locomoção no cotidiano. Mas as promessas de novos acessos e iluminação (o que permitirá o uso noturno) podem modificar esse cenário.
Mas, referências, vamos para as referências.
De acordo com o ranking do ano passado de uma empresa dinamarquesa (a Copenhagenize) que elegeu as 20 melhores cidades do mundo para se andar de bicicleta (resultado elaborado em cima de uma pesquisa que colheu informações de 80 cidades durante seis meses), Amsterdã é a maior referência mundial quando o assuntos é a magrela. Em seguida vem Copenhague, Barcelona, Tóquio e Berlim respectivamente. Mas eu não tenho dúvidas de que quando o ranking for atualizado, a capital dinamarquesa passará a encabeçar a lista. Segundo os dados da prefeitura de Copenhague, no centro da cidade 55% das pessoas usam a bicicleta como meio de transporte, o que deixa no chinelo o transporte público (22%) e o transporte privado (11%). As ciclovias somam 350km de asfalto na capital e, claro, há semáforos exclusivos para os ciclistas.
Quando pensamos em transportar essa mentalidade para uma cidade como a de São Paulo, logo surgem infinitos obstáculos: o trânsito alucinante, os motoristas desrespeitosos, o tamanho da cidade, o desnível das ruas, a falta de qualidade do asfalto e por aí vai. Acontece que podemos vê-los como obstáculos a serem ultrapassados ou desculpas para ficarmos na inércia. Infelizmente, nesse caso o caminho para que as coisas aconteçam parece ser de B para A, ou seja, enquanto não houver um número considerável de ciclistas pelas ruas, não haverá infraestrutura para as bicicletas. As pessoas precisam se movimentar no sentido de mostrar para os governantes o impacto positivo que teria a implantação de tais estruturas.
“Em 1973, com a crise do petróleo”, afirmou o planejador urbano Jeff Risom, “mais e mais pessoas [na Dinamarca] começaram a exigir, como os paulistas deveriam fazer, outras opções para o trânsito.” Foi essa movimentação popular a responsável por fazer com que hoje a cidade seja conhecida como referência mundial no uso de bicicletas como meio de transporte. Isso não traz benefícios somente para quem usufrui das ciclovias – a economia também sai ganhando. As contas da prefeitura de Copenhague concluíram que a cada quilómetro pedalado a cidade lucra R$ 0,40; e que a cada quilómetro que um carro roda ela perde R$ 0,20. Essa é uma possível – e bastante real – solução para o problema da infraestrutura.
Em relação ao desnível e o tamanho da capital paulista, o problema pode ser resolvido de forma muito simples: bicicletas motorizadas. Elas têm mecanismos de gerar energia sustentável e custam bem menos do que um carro. Tem que subir a Brigadeiro Luiz Antônio? Acelere. Quando for descer a Avenida recarregue a bateria freando (sim, isso existe).
Ok, mas ainda falta a questão dos motoristas desrespeitosos. O grande problema é que os paulistas não estão acostumados com bicicletas pelas avenidas e não a enxergam como parte do trânsito – é como se a magrela fosse uma intrometida por ali, o que é uma grande besteira. Conforme o número de ciclistas for aumentando esse cenário vai se modificando. E outra, quando os motoristas também tiverem o costume de pedalar, a tendência é que toda essa suposta agressividade suma. Vários dos motoristas, afinal, serão também ciclistas. Então não haverá mais uma relação antagônica entre eles, certo?
Ou seja, para que as coisas mudem não tem jeito: temos que ir para a rua com a magrela. (Parabéns Copenhague, você é inspiradora.) Então, se você se anima com a ideia, mas se assusta com a realidade do trânsito paulista, aqui vão algumas dicas para começar a pedalar em São Paulo.
1º passo: Comprando a Bicicleta
Comprar uma bicicleta, é claro, deve ser o primeiro ato. Nunca faça isso sem testa-la antes – é muito importante que você se sinta confortável para pedalar. Existem diferentes tamanhos de bicicleta. Cuidado para não comprar uma muito grande ou muito pequena para o seu porte – isso pode lhe causar dores desagradáveis (para saber como encontrar as dimensões ideais visite este link). Numa cidade como São Paulo é preferível que a bicicleta tenha suspensão dianteira por conta da irregularidade do asfalto. A traseira não é necessária, porque ela vai tirar a tração das suas pedaladas nas subidas. Agora, preste atenção: a não ser que você saiba o que esteja fazendo, não compre bicicletas do modelo speed (aquelas que têm os pneus bem finos), pois é uma bicicleta de alta velocidade e andar rápido em São Paulo não é uma boa ideia. Além do mais, ela não absorve impacto e qualquer buraco no chão pode te render um buraco entre os dentes.
2º passo: Equipando a Bicicleta
Alguns equipamentos são indispensáveis para qualquer um que quer andar de bicicleta. São eles: capacete, luz traseira e dianteira, campainha, cadeado e, se possível, um colete fluorescente que ajuda muito na visibilidade à noite. Ah, homens, comprem selim que tenha um furo no meio – isso pode evitar problemas de virilidade.
3º passo: Ouça nossas 10 dicas
1) Alongue antes e depois de cada pedalada.
2) Comece a pedalar aos domingos – são dias mais tranquilos que te proporcionarão o ambiente perfeito para começar a pegar intimidade com o asfalto.
3) Ande sempre pela rua, jamais pela calçada. Se não estiver se sentindo seguro com os carros, desça da bike e ande com os pedestres – e como um pedestre.
4) Pedale do lado direito da rua e nunca na faixa de ônibus. Não transite dentro de túneis – é perigoso e ilegal.
5) Nunca ande de bicicleta ouvindo música. A audição é extremamente necessária para você saber o que acontece ao seu redor.
6) Quando o trânsito estiver parado e a sarjeta for a única opção, ande com cuidado por ela se não quiser levar uma portada na cara.
7) Mantenha a bicicleta sempre bem regulada.
8) Ande concentrado na sua função e com tranquilidade. Não fique preocupado com quem vem atrás, pois isso pode te afobar e desconcentrar. Se buzinarem para você não se desespere: você está nos seus direitos e não há necessidade de agradar ninguém.
9) Saia com antecedência de casa para não ter que pedalar com pressa – algo terrível para quem está numa bike.
10) Respeite a sinalização de trânsito: não atravesse no farol vermelho; não ande na contramão; se a sua coordenação permitir dê sinal antes de fazer conversões. Bicicleta é um veículo. Para cobrar pelos seus direitos é necessário que se cumpra com os seus deveres.
4º passo: Vá para a rua
Ouça todas essas dicas e fique tranquilo com o resto. A maneira mais segura de andar de bicicleta é cumprir com a sua parte. Pode acreditar: a maioria dos acidentes que envolvem ciclistas acontece por displicência deles. Nada de direção agressiva ou ousadia. Lembre-se: a bicicleta é um veículo vulnerável. Agora vá, cowboy, vá e pedale: é barato, divertido, sustentável e de quebra você entra em forma – o que pode ser muito útil.