2022 será um ano de transição. Por Emir Sader

Atualizado em 18 de dezembro de 2021 às 14:28
Manifestação Fora Bolsonaro, no Rio de Janeiro, em julho. Imagem: Reprodução
Manifestação Fora Bolsonaro, no Rio de Janeiro, em julho. Imagem: Reprodução

2022 será um ano de transição entre estes anos desde a ruptura da democracia e o resgate da democracia. Olhando em perspectiva, será um parêntesis, curto na projeção da nossa historia no século XXI, mas duro, triste, longo, quase interminável.

Parêntesis que começou com a ruptura da democracia, um novo momento trágico na história do Brasil, que pensávamos que não viveríamos mais. Temos que tirar lições. Não havia consciência no povo de que a defesa da democracia deveria estar acima de tudo. Que somente na democracia a maioria decide o que quer para o país.

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Tínhamos logrado difundir a consciência de que o problema fundamental do Brasil são as desigualdades sociais. Tínhamos logrado vencer quatro eleições presidenciais baseados nessa consciência da maioria da população. Mas tínhamos feito uma campanha frágil pela reeleição da Dilma, baseada praticamente apenas nos meios do retrocesso.

Nossa maior debilidade foi não termos sido capazes de desenvolver no povo a consciência democrática, ao lado da consciência social. Como que dávamos por assentado que a democracia tinha vindo para ficar. Afinal, tínhamos ganho três eleições sucessivas, nossos governos tinham assumido e governado muito bem.

Quando a direita criou o clima do impeachment contra a Dilma, não houve reação à altura dos riscos que o pais corria com a nova ruptura da democracia. Foi uma derrota grave, tanto mais porque não encontrou resistência à altura.

Os que apenas olharam para o dedo e não para a lula, ficaram no diagnóstico de que o problema era ter um vice-presidente que aderiu ao golpe. E tiram a pobre conclusão de que a esquerda tem que ganhar com chapa pura.

Não se dão consciência de que o problema era e é muito mais profundo. Não teria bastado um outro vice, se não se impediu que a direita criasse um clima de desestabilização do governo. Teria imposto o impeachment no Congresso, mesmo com outro vice. O único antídoto teria sido uma massiva mobilização popular pela defesa da democracia.

Para tanto era necessário retomar a questão da democracia como valor universal, mais além de todas as circunstâncias que o país viva. Que somente na democracia tem vigência a liberdade de expressão, a liberdade de organização, a liberdade de criação cultural, a liberdade para afirmar o direito de todos, das maiorias e das chamadas minorias.

Estarão criadas, em 2022, as condições para o restabelecimento da democracia. Não será pela escolha do vice do Lula que a democracia estará garantida. A única consciência é uma campanha eleitoral em que se faça o balanço político para todos os brasileiros das razões de termos saído dos governos mais democráticos da nossa história para o mais autoritário. De como foi possível, de como só a profunda consciência democrática disseminada e enraizada no povo, pode impedir que voltemos a viver anos tão miseráveis.

Para que nunca mais passemos por tempos tão miseráveis, de tanta desesperança, de tanta falta de paz, de tanta falta de democracia. Que 2022 seja um ano de disseminação da consciência democrática por todo Brasil. Que o retorno do Lula à presidência seja também o retorno irreversível da democracia. Que vivamos um ano de transição destes anos miseráveis ao retorno irreversível a anos de democracia e de esperança.

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