Jornal Nacional escondeu trecho da conversa que compromete Moro. Por Moisés Mendes

Atualizado em 15 de maio de 2020 às 8:45

Ficamos sabendo, por interferência de Bolsonaro (a que ponto chegamos), por que a Globo omitiu as respostas de Sergio Moro na troca de mensagens do então ministro com a deputada Carla Zambelli.

Bolsonaro divulgou agora há pouco no Twitter o trecho que faltava de uma conversa do dia 24 de abril sobre o imbróglio em torno do comando da Polícia Federal.

Na longa troca de mensagens pelo Twitter, mostradas no Jornal Nacional, a deputada faz apelos para que o então ministro troque o comando da Polícia Federal e não pense em pedir demissão.

No trecho mais comprometedor para a deputada, ela sugere que Moro tire o delgado Maurício Valeixo da direção da PF e, em troca, aceite a vaga no Supremo, prometida por Bolsonaro.

É quando Moro diz que não está à venda, a única frase que a Globo divulgou das conversas, porque favorece a imagem do justiceiro incorruptível.

Mas faltou uma frase de uma conversa pouco antes de Moro pedir demissão, em que ele diz para a deputada que aceita ficar, desde que Bolsonaro anule o decreto de exoneração de Valeixo.

Bolsonaro não revê sua decisão e logo depois, naquele dia 24 de abril, Moro chama a imprensa para anunciar que estava saindo porque Bolsonaro queria interferir politicamente na Polícia Federal.

A mensagem mostra que o desfecho poderia ter sido outro. Se Bolsonaro revisse a exoneração do delegado, ele ficaria? Parece que sim. E a denúncia contra Bolsonaro, que se transformou em inquérito, não existiria?

Bolsonaro é tratado na troca de mensagens como PR, uma convenção consagrada agora pela direita para se referir ao presidente da República.

Com a manutenção do delegado, tudo continuaria numa boa entre o homem que tenta manipular a Polícia Federal e o juiz que decidiu denunciar o ex-chefe? Se a combinação tivesse dado certo, Moro estaria de novo na briga pela vaga no STF.

Mas a deputada Carla Zambelli foi uma péssima negociadora.