Uma faxina simbólica no sistema de justiça. Por Moisés Mendes

Atualizado em 29 de junho de 2019 às 13:02
Sérgio Moro. Foto: AFP

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POR MOISÉS MENDES

E se essa ideia de Deltan Dallagnol, que pode ter contaminado toda a Lava-Jato, segundo a qual alguns suspeitos devem ser enquadrados não porque existam provas contra eles, mas pelo seu valor simbólico, fosse disseminada pelo Ministério Público e pelo Judiciário?

E se, em nome desse valor simbólico, eles mesmos, os chefes da Lava-Jato, Sergio Moro e Dallagnol, sofressem devassas, como o procurador pretendia fazer com as pedaladas na casa do senador eleito Jacques Wagner, somente pelo valor simbólico da operação? É o que aparece nas conversas vazadas hoje pela Monica Bergamo na Folha.

Se a democracia tivesse força suficiente para fazer com o MP e o Judiciário o que eles, do MP e do Judiciário, tentaram fazer de forma seletiva com a política? Que valor simbólico isso teria hoje no Brasil, quando se sabe que MP e Judiciário estão infestados de arbitrariedades?

Que valor simbólico teria hoje o enquadramento de todos os procuradores que se submeteram (como revelam as conversas publicadas nessa madrugada pelo Intercept) às determinações de Sergio Moro, mesmo que o juiz violasse o sistema acusatório, como eles mesmos dizem?

Para concordar com Dallagnol, talvez seja o que Brasil precise. Talvez precise de juízes julgados, condenados e presos, não pela ação de justiceiros, mas por julgadores que obedeçam leis e normas. Com provas, com a verdade.

O Brasil precisa do valor simbólico, mas também real, de uma limpeza na estrutura podre do sistema de Justiça, mas não uma faxina seletiva, como a Lava-Jato pretendia fazer na política. A Lava-Jato pode apenas ter oferecido esse pretexto pela ideia inspiradora de Dallagnol.

E a ideia de copiar Dallagnol não é minha. É de Bernardo Mendes, que por acaso é meu filho. Os Mendes gostam de copiar as boas ideias alheias.

Essa do valor simbólico reabilitado pelo Dallagnol é uma grande ideia. Mas o valor simbólico lastreado pela lei, e não como ele pretendia fazer com Jacques Wagner. Esperemos que o procurador não desminta e diga que a ideia não é dele.

Foi até agora sua melhor ideia, melhor até do que o famoso powerpoint das bolinhas azuis. Dallagnol é um homem de luzes.