Pesquisa do instituto Datafolha mostra que 73% dos brasileiros acham que a educação sexual deve estar presente nas escolas. Além disso, 9 entre 10 pessoas concordam que discutir o assunto em sala de aula pode ajudar crianças e adolescentes a se prevenirem contra o abuso sexual e que a sala de aula deve oferecer informação sobre doenças sexualmente transmissíveis e formas de prevenção.
A pesquisa “Ultraconservadorismo na educação” foi realizada pelo Datafolha e encomendada pelo Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária) e pela Ação Educativa. Foram entrevistados 2.090 brasileiros, com idades entre 16 anos ou mais, de 130 municípios do país, entre 8 e 15 de março de 2022.
Os dados evidenciam as contradições entre as investidas de setores conservadores sobre educação sexual e a opinião da sociedade brasileira sobre o tema. Apesar da maioria concordar com o ensino, devido a pressão desses setores, os termos “orientação sexual” e “gênero” foram retirados pelo Ministério da Educação do documento final da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em 2017.
Durante o governo Bolsonaro, ex-ministros da Educação como Ricardo Vélez, Abraham Weintraub e Milton Ribeiro constantemente criticavam a presença de uma educação sexual nas escolas, afirmando ser uma tentativa de “ensinar ideologia de gênero” e “erotizar crianças”.
“É desserviço falar que a educação pode sexualizar. Esse pensamento impacta a autopreservação e a proteção de crianças e adolescentes”, afirma Itamar Gonçalves, gerente de programas da ONG Childhood Brasil. Para ele, a oposição ao tema pode ocorrer por “crenças pessoais ou pelo receio da sexualidade precoce”. De acordo com a pesquisa Datafolha, em média, o brasileiro acha que a educação sexual deve acontecer a partir dos 12 anos de idade.
Especialista em saúde pública, Lúcia Duarte trabalhou por 30 anos com doenças infecciosas. Ela acredita que as políticas públicas precisam ser direcionadas para a população mais jovem: “Nós vivemos numa sociedade moralista. Sei que existem pais que têm dificuldade de tratar desse assunto com os filhos. As políticas públicas precisam ser direcionadas para essa população mais jovem”.
A professora e integrante do grupo de estudos Gênero, Educação e Cultura Sexual da USP, Luana Barbosa, defende que desde que o tema seja trabalhado respeitando a faixa etária dos alunos, ou seja, conforme seus repertórios, ele é passível de ser abordado em sala.
De acordo com a BNCC, o assunto deve aparecer desde o ensino fundamental até o ensino médio, para “ajudar o aluno a entender as mudanças que fazem parte da adolescência e a tomar decisões que respeitem o seu corpo e o do outro”.