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Por Luis Felipe Miguel
A votação na Câmara foi uma bela vitória para Bolsonaro.
Sim, o voto impresso perdeu. Mas quem disse que isso importava?
Bolsonaro já era vitorioso por colocar esta não-questão no centro da pauta política, com doses cavalares de mentiras e falsificações.
Fez do tema o mote para suas declarações golpistas e intentos para liquidar o que resta de democracia no Brasil, culminando com o que o britânico The Guardian descreveu como “parada militar de república das bananas”.
Ainda assim, a PEC do voto impresso obteve 229 votos em plenário.
As lideranças no Congresso, sobretudo após a absurda tentativa de intimidação militar de ontem, queriam impor uma derrota significativa. Segundo a imprensa, se esforçavam para deixar Bolsonaro com menos de um terço dos votos.
Não é um patamar simbólico. Um terço é o necessário para impedir um processo de impeachment.
Pois ele obteve apoio de quase 45% dos deputados.
Deputados que não se constrangeram ao se associar a um claro intento golpista. Que foram sensíveis às ameaças, à agressividade da militância bolsonarista nas redes e/ou às promessas feitas pelo governo.
Lembrando que, se foram 229 insuficientes votos a favor, os contrários não passaram de 218. Além do presidente da Câmara, que ordinariamente não vota, e de Aécio Neves, que se absteve, foram 65 ausências na sessão.
Algumas, decerto, justificadas. Mas muitas motivadas pela vontade de não entrar em conflito aberto com o bolsonarismo.
Outro dado importante: a maior parte das bancadas orientou voto contrário à PEC (as exceções foram os partidos mais fiéis da base bolsonarista, incluindo, é claro, o Novo).
Mas, com exceção de PT, PSOL e PCdoB, em todos eles houve defecções importantes. Mais da metade do DEM, do MDB e do PSD. Quase metade do PSDB. Seis votos no PDT, onze no PSB.
Pouquíssimos destes votos podem ser explicados pelo mérito da matéria. O que estava em discussão já não era, há muito tempo, o voto impresso. Era qual seria a reação ao golpismo de Bolsonaro.
Vai haver alguma tensão, já que Bolsonaro certamente não entregará aquilo que Arthur Lira prometeu – acatar o resultado da votação na Câmara e parar com a agitação golpista.
Mas – como dizia o verso imortal de Nelson Ned – “tudo passa, tudo passará”. Em um ou dois dias, se tanto, Lira já estará acomodado, arranjando uma nova desculpa para o genocida do Planalto.
O que Bolsonaro deseja, agora, é carta branca para continuar tumultuando o processo político e ameaçando a realização das eleições. A votação da PEC do voto impresso não foi, nem de longe, capaz de tirá-la de suas mãos.