Hipocrisia bolsonarista e evangélica: Edir Macedo fez a defesa do aborto

Atualizado em 6 de outubro de 2022 às 13:22
Governo Bolsonaro concede passaporte diplomático a Edir Macedo e esposa
Bispo da Igreja Universal, Edir Macedo, abençoando Jair Bolsonaro

A celeuma em torno da declaração — correta — de Lula em torno do aborto, alimentada sobretudo por bolsonaristas e lideranças evangélicas, é de uma hipocrisia abjeta.

Em evento virtual com membros do Parlamento Europeu, o ex-presidente lembrou que mulheres pobres morrem ao tentar abortar enquanto “madame pode fazer um aborto em Paris” ou “ir para Berlim procurar uma clínica boa”.

“Aqui no Brasil ela não faz porque é proibido, quando na verdade deveria ser transformado numa questão de saúde pública e todo mundo ter direito e não ter vergonha”, falou.

É disso que se trata. No primeiro semestre de 2020, mais de 80 mil mulheres foram atendidas pelo SUS em todo o país em razão de abortos malsucedidos, provocados ou espontâneos.

Edir Macedo já se manifestou favorável à prática, com argumentos parecidos. Gilberto Nascimento, o maior especialista na Universal, comentou sobre a posição do bispo.

Reproduzo matéria da Folha sobre o assunto:

A defesa da legalização e da legitimidade do aborto é a mais nova campanha do bispo Edir Macedo, líder da Iurd (Igreja Universal do Reino de Deus). O assunto é destaque da edição da “Folha Universal”, semanário da igreja neopentecostal, lançada na vigília encerrada na madrugada de ontem no Maracanã (Rio de Janeiro).

Com 184.276 presentes no estádio do Maracanã e 20 mil no ginásio do Maracanãzinho, segundo a Suderj (Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro), foi o maior evento religioso da história do complexo esportivo carioca (leia texto abaixo).

Durante todo o culto, bispos conclamaram o público a comprar o jornal “para conhecer a posição do bispo Macedo sobre o aborto”. Em entrevista no jornal, Macedo diz que não condenaria o aborto, se “uma família está passando fome, a mulher fica grávida, mas não tem peito para dar de mamar à criança, devido à sua desnutrição”.

“Eu não vou condenar essa mulher se ela resolver abortar. Porque vão sofrer os pais e a criança. Neste caso, ao meu ver, o aborto não seria pecado. Os que são contra o aborto não sabem o que é passar fome”, afirma o bispo.

O bispo Macedo, em outubro de 1997, já havia defendido o aborto, mas apenas em casos de gravidez indesejada. Na época, durante pregação em Belo Horizonte, ele afirmou ser “radicalmente a favor da lei” e contra o “aborto pelo aborto”.

Macedo não falou em aborto durante sua pregação na vigília do Maracanã, que foi dedicada a temas religiosos. Apesar de, na “Folha Universal”, o bispo dizer estar falando “em nome pessoal”, os apelos para a leitura da sua entrevista indicam que a cúpula da Universal adota a mesma posição.

A defesa Edir Macedo pela interrupção voluntária da gravidez se opõe à absoluta restrição defendida pela Igreja Católica.
O arcebispo do Rio, d. Eugênio Sales, criticou o prefeito Luiz Paulo Conde (PFL) por sancionar na última terça-feira lei que obriga os hospitais do município a informar as vítimas de estupro sobre a possibilidade de aborto legal.

Macedo revelou que a sua mãe abortou: “Não de propósito, e sim por questões sociais. Nem por isso deixou de dar à luz a mim. Deus me salvou por misericórdia e a salvou também. Agora, abortar ou não vai depender da consciência de cada um”.

A opinião do líder da igreja evangélica brasileira com maior poder de mídia -controla a TV Record- é similar à de organizações feministas e de profissionais da área de saúde.

“Sou a favor de que existam leis específicas para o aborto, dependendo das circunstâncias. Isso evitaria que mulheres procurassem as clínicas de fundo de quintal e acabassem morrendo, como tem acontecido”.