Morre Alberico de Sousa Cruz, ex-diretor da Globo envolvido na infame edição do debate Lula X Collor

Atualizado em 10 de maio de 2022 às 16:30
Alberico de Souza Cruz

Morreu nesta terça-feira, dia 10, o jornalista Alberico de Sousa Cruz. Ele tinha 84 anos e estava internado no Rio de Janeiro em face de complicações de uma leucemia diagnosticada há alguns meses.

Trabalhou no Jornal do Brasil, revista Manchete, Última Hora e Veja. Em 1980 chegou à Globo, onde fez uma carreira bem sucedida.

Substituiu Armando Nogueira na direção da Central Globo de Jornalismo.

Alberico ganhou fama no episódio da edição do debate entre Lula e Collor, exibida pelo Jornal Nacional, manipulada em benefício do segundo e decisiva no processo eleitoral de 1989.

O Observatório de Imprensa deu uma matéria sobre o caso:

Armando Nogueira, então diretor da Central Globo de Jornalismo, acusa nominalmente Alberico de Souza Cruz, um de seus diretores, juntamente com o editor de política, Ronald de Carvalho, de terem deformado a edição apresentada no Jornal Hoje e que deveria ser repetida sem qualquer alteração.

‘Alberico, à minha revelia, mandou fazer alterações, das quais eu só tomei conhecimento no ar. Então eu estava diante de um caso típico de deslealdade, de traição profissional, traição funcional (…). Foi um caso típico de deslealdade profissional desse rapaz que era uma pessoa de minha confiança e que segue até hoje e vai continuar negando até o Juízo Final. Mas, no Juízo Final, continuarei a responsabilizá-lo por isso’ (Armando Nogueira).

Alberico de Souza Cruz, por sua vez, afirma que recebeu uma ligação de Ronald de Carvalho dizendo que Alice Maria e João Roberto Marinho queriam alterações na edição apresentada no Jornal Hoje, pois Lula teria sido privilegiado e o correto seria algo mais equilibrado. Alberico afirma que não quis se envolver na questão e deixou Ronald livre para fazer como quisesse. Alberico é enfático ao dizer que a edição foi correta, mostrou que Collor havia se saído melhor do que Lula, mas de forma alguma teve responsabilidade sobre ela.

‘Eu não desci sequer para ver a edição. Eu não estive na ilha. Eu estava na minha sala (…). Para mim é uma manipulação que se fez contra mim por uma razão muito simples: é que o dr. Roberto Marinho depois me escolheu como diretor de jornalismo. Eu vejo falar em crise na redação, que ameaçavam brigar comigo. Mas continuei na Globo do mesmo jeito, sem ninguém falar nada comigo’ (Alberico de Souza Cruz).

Alice Maria, então diretora-executiva da Central Globo de Jornalismo, afirma que mandou reproduzir no Jornal Nacional a mesma matéria do Jornal Hoje, porém, ressalva que Alberico telefonou para Armando Nogueira sugerindo algumas modificações. Armando teria concordado, mas avisado que a isenção deveria ser mantida.

‘Eu estava na sala do Armando quando o Jornal Nacional foi ao ar. Ao ver a edição do debate, levei um susto. A matéria do JN não tinha nada a ver com a do Hoje. O Alberico ignorou a orientação que recebera. Na verdade, ele tinha traído a confiança do Armando e alterado completamente a edição’ (Alice Maria).

Ronald de Carvalho assina embaixo da defesa de Alberico Souza Cruz e assume para si toda a responsabilidade da edição. Ele diz que não concordava com a isenção, que naquele momento era preciso mostrar a realidade. Ronald diz ter recebido de Alice Maria ordens para refazer a edição, pois estava tudo muito igual e o debate não havia sido assim, mas ressalva que os critérios foram seus e de mais ninguém. Ronald afirma ter ido para a ilha, liberado o editor Octávio Tostes, e ter feito tudo sozinho.

‘Eu, desde o primeiro momento, sempre tenho dito e repito: o único responsável pela edição do debate fui eu; não recebi instruções de ninguém’ (Ronald de Carvalho).

Foi também padrinho de Tomás, filho de Mírian Dutra, então repórter da Globo, com FHC. Ao DCM, ela relatou que Alberico a ajudou a se exilar em Portugal para não causar constrangimento ao ex-namorado Fernando Henrique quando ele assumiu a presidência.

Mírian relatou que suspeitava que Alberico não fizera nada de graça. De fato, ele obteve nos anos Fernando Henrique onze concessões de TV a cabo, através das empresas Divinópolis e São Luiz, mais tarde vendidas.