Globo homenageia Milton Gonçalves, mas nunca lhe deu papel principal em nenhuma novela

Atualizado em 30 de maio de 2022 às 19:14
Milton Gonçalves e seu crachá da Globo

A GloboNews tem dedicado a programação desta segunda, dia 30, a homenagear Milton Gonçalves, morto aos 88 anos no Rio de Janeiro.

A ênfase é na negritude de Milton e sua importância na história da TV. “O legado dele é um oceano infinito”, filosofou César Tralli. Maria Beltrão insistia no fato de ele ser “fundador da Globo”, uma espécie de honraria por trabalhar para a família Marinho desde sempre. 

“Ator se orgulhava de ser o funcionário 141 da Globo”, relata uma matéria do G1.

Colegas negros foram convocados para falar da inspiração que ele lhes trouxe como exemplo de superação etc. 

No entanto, Milton Gonçalves nunca foi protagonista de nenhuma das mais de quarenta novelas que fez na emissora. Nunca.

Foi médico, juiz, padre. Mas o papel central era dado a qualquer outro branco, evetualmente sem sombra de seu talento. Imagine trabalhar sob um canastrão como Francisco Cuoco. Imagine os sucessores de Francisco Cuoco.

Milton estava lá, dando suporte dramático ou algo que o valha.  

Não existe desculpa para isso. “Os tempos eram outros”, dirá alguém. Faz tempo que o paradigma mudou. Para ficar num exemplo americano, Sidney Poitier protagonizava filmes desde os anos 60. 

Em 2019, sua empregadora lhe atirou um osso: um Papai Noel num especial de fim de ano que ninguém viu intitulado “Juntos a Magia Acontece”.

“Eu acredito em Papai Noel, mas tinha gente que não acreditava em mim”, dizia ele com sua voz bonita, que emprestou a muitas propagandas.

Meio que resume a ópera. Acreditar que a Globo não é racista é parte do show de que Milton Gonçalves não mais fará parte.