Cartagena é uma linda cidade colombiana. O Nobel de Literatura Gabriel García Márquez tem ali uma casa. Ambientou no lugar algumas de suas obras, como O amor nos tempos do cólera. Cartagena, que é também um porto estratégico no país, é possuidora daquele elemento clássico das grandes metrópoles sul-americanas: é cercada de favelas. Uma delas fica no caminho para um passeio fantástico para as Islas del Rosario, no Caribe.
É um trajeto incrível. Num momento, os barqueiros param próximos a um píer, de onde os meninos magros e pobres dos barracos saltam. Eles nadam até perto da embarcação e gritam: “Amigo, amigo! Dinheiro, amigo! Money!” Os turistas, rindo, arremessam moedas na água. Quando os garotos não conseguem pegá-las, eles, bons mergulhadores, um tanto desesperados, vão em busca delas no fundo. Lembram os “peixinhos” do imperador Tibério em Capri.
Os turistas, provavelmente, acham que fazem uma boa ação. Ou não acham nada. Os que acham alguma coisa sabem que aquele espetáculo, na verdade, pode ser considerado outra coisa: um show de humilhação. Não é só na Colômbia, claro, que a miséria é explorada como atração.
No Brasil, a Rocinha tem jipes que perfazem um roteiro organizado por gente da “comunidade”. Tudo com a autorização óbvia do tráfico. A África do Sul tem tours para as favelas do Cape Flats e para o Soweto, em Johannesburgo.
Para que essa equação dê certo, é preciso que os dois lados estejam de acordo. E os pobres, ou aqueles que estão por trás deles, precisam querer ser explorados. Existe um interesse legítimo em usar o turismo para ajudar. Na Europa, existe o “volunturismo”. O sujeito viaja para engajar-se em atividades sociais ou ambientais. O que é bem diferente de assistir de camarote, com uma câmera na mão, aos miseráveis, atirando-lhes esmolas como se fossem sardinhas para focas, achando que essa é uma contribuição para um mundo mais bacana, ou só mais uma diversão incluída no pacote.