Após ter sido divulgado em fevereiro que nos últimos 70 anos terão havido mais de 4.500 vítimas de abusos sexuais na Igreja portuguesa, o Papa Francisco admitiu no Mosteiro dos Jerónimos, onde rezou As Vésperas, que a Santa Sé tem sido abalada por escândalos que têm afastado as pessoas da Igreja.
“Às vezes podemos sentir um cansaço semelhante no nosso caminho eclesial, quando nada mais temos nas mãos além das redes vazias. Trata-se de um sentimento bastante difundido nos países de antiga tradição cristã, atravessados por muitas mudanças sociais e culturais e cada vez mais marcados pelo secularismo, pela indiferença para com Deus, por um progressivo afastamento da prática da fé. Aliás, isto vê-se, com frequência, acentuado pela desilusão e a aversão que alguns nutrem face à Igreja, devido, às vezes, ao nosso mau testemunho e aos escândalos que desfiguraram o seu rosto e que nos chamam a uma humilde e constante purificação, partindo do grito de sofrimento das vítimas que sempre se devem acolher e escutar”, disse o Papa aos peregrinos e aos sacerdotes que se juntaram em Belém para o ouvir.
O Papa deu também soluções nesta missa, mencionado que uma das hipóteses é “passar do derrotismo à fé”, “levar juntos por diante a pastoral”, ou seja, não ficar sozinho, e ainda “tornar-se pescador de homens”, de forma a ajudar os crentes “a voltar a subir de onde afundaram” e ressuscitá-los “de todas as formas de morte”.
Soube-se depois desta homília, que o Papa se encontrou na Nunciatura Apostólica com 13 vítimas de abusos sexuais por parte da Igreja portuguesa. Esta reunião durou uma hora e decorreu, segundo a Igreja, “num clima de intensa escuta”.
“Na tarde de hoje, após o final dos encontros institucionais e com a Igreja, o Papa Francisco recebeu na Nunciatura um grupo de 13 pessoas, vítimas de abusos por parte dos membros do clero, acompanhados por alguns representantes de instituições da Igreja portuguesa, responsáveis pela proteção dos menores”, pode ler-se no comunicado enviado às redações pela Santa Sé.
O Papa Francisco está em Portugal até dia 6 de agosto, Domingo, para participar na Jornada Mundial da Juventude que vai trazer até Lisboa mais de um milhão de peregrinos vindos de 184 países no Mundo.
Texto publicado originalmente no RFI