Por Jeferson Miola
Do ponto de vista eleitoral, a retórica racista-secessionista do governador de Minas Gerais Romeu Zema seria um tremendo desastre para um postulante ao posto de candidato preferencial da ultradireita e do fascismo na eleição presidencial de 2026.
Duzentos e quarenta e nove dos 853 municípios do Estado governado por Romeu Zema integram a área de atuação da SUDENE, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste.
A SUDENE dispõe de instrumentos de estímulo ao desenvolvimento do nordeste brasileiro e conta com incentivos fiscais e recursos com taxas diferenciadas de Fundos constitucionais para o financiamento de projetos e empreendimentos na área de atuação, o que abarca extensos território e população de Minas Gerais.
Além disso, seria desinteligente Zema hostilizar diretamente cerca da metade do eleitorado brasileiro , representado em todo o “resto” da população que vive fora da região sul-sudestina que ele idealiza como uma nação separada daquele Brasil da “vaquinha que produz pouco”.
Diante disso, portanto, é de se perguntar se Romeu Zema está “apenas” cometendo equívocos retóricos em série – há poucos dias repetiu elogiosamente o pensamento de Mussolini –, ou se há método e estratégia por trás desta conduta.
Embora Zema seja uma sujeito simplório e portador de uma cosmovisão torpe e deturpada, não se pode dizer que alguém eleito e depois reeleito em primeiro turno para governar o segundo Estado mais populoso do Brasil possa ser considerado tão imbecil a ponto de desprezar os enormes prejuízos eleitorais ocasionados pelos seus posicionamentos.
Não se pode descartar a priori, portanto, a hipótese de Romeu Zema estar reforçando a gramática extremista como estratégia de posicionamento como candidato presidencial do campo fascista e ultradireitista em 2026 no lugar do titular inconteste do posto, Jair Bolsonaro, que não poderá concorrer.
A rápida solidariedade do governador gaúcho Eduardo Leite/PSDB à tese racista-secessionista mostra que outros postulantes ao mesmo posto não querem ficar para trás nesta corrida.
Apostam na radicalização, no ódio e no extremismo antipetista para se comunicarem com o eleitorado bolsonarista que não terá Bolsonaro como opção na urna eletrônica.
Decerto calculam que os prejuízos eleitorais momentâneos, absorvidos faltando pouco mais de três anos até a próxima eleição, serão compensados pelo ganho de tração eleitoral que passarão a ter como representantes do espectro fascista.
Se Zema – e o tucano Leite – circunstancialmente podem sofrer críticas pesadas do senso comum democrático e civilizado, em compensação devem ganhar apoio nos esgotos das redes sociais e no ecossistema digital da ultradireita.
A inelegibilidade de Bolsonaro está longe de significar o fim do bolsonarismo. E tampouco representa a inviabilidade da extrema-direita na disputa política nacional.
Prova disso é a corrida aberta no campo conservador para saber quem é mais bolsonarista que o próprio Bolsonaro. A retórica racista-secessionista fornece um dos combustíveis desta corrida.