O ex-presidente Jair Bolsonaro teve “agendas privadas” à noite com o procurador-geral da República, Augusto Aras, e a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo. Os encontros ocorriam no Palácio da Alvorada e eram registrados por ajudantes de ordens, mas não foram divulgados pelo governo ou pelo Ministério Público Federal (MPF).
O primeiro registro de reunião do ex-presidente com os membros da Procuradoria-Geral da República (PGR) é de 11 de abril de 2022, entre 19h e 20h. Lindôra havia sido promovida recentemente ao cargo de número dois de aras na ocasião. E-mails mostram que o encontro ainda contou com a presença do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), um dos padrinhos da indicação da subprocuradora.
Uma semana depois do encontro, Lindôra fez uma manifestação ao Supremo Tribunal Federal (STF), dizendo que não via indícios de crime de Bolsonaro no inquérito que apura atuação de pastores lobistas na liberação de verbas do Ministério da Educação (MEC).
Os e-mails apontam ainda que Lindôra teve outra reunião reservada com Bolsonaro em 2 de maio de 2022, entre 19h10 e 19h40, ocasião que contou com a presença de Aras. Três semanas depois, a vice-procuradora-geral fez outra manifestação ao Supremo, negando que Bolsonaro tenha cometido crime de racismo por dizer que homem negro pesava “mais de sete arrobas”.
A terceira reunião registrada por ajudantes de ordens ocorreu no dia 10 de agosto, entre 20h45 e 21h30. Duas semanas depois, no dia 24, Lindôra defendeu o arquivamento de ação contra Bolsonaro no STF. A Corte solicitou o posicionamento da PGR sobre abrir um inquérito para apurar ataques do então presidente ao sistema eleitoral em reunião com embaixadores.
Na ocasião, a PGR afirmou que seria “prematuro” instaurar inquérito sobre o caso. “A averiguação preliminar dos fatos deve ocorrer em sede de notícia de fato criminal na PGR ou em petição perante o STF, evitando-se a instauração prematura de inquérito”, diz ofício assinado por ela.
No mesmo mês, a procuradora protocolou manifestação crítica a Alexandre de Moraes, ministro do STF, por ter ordenado mandados de busca e apreensão contra empresários bolsonaristas que compartilharam mensagens golpistas em grupo de WhatsApp. Ela reclamou que a Corte não esperou posicionamento da PGR antes de determinar medidas cautelares.
As informações foram descobertas na caixa de e-mails de Mauro Cid, tenente-coronel e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. As mensagens estavam em uma pasta intitulada “agenda privada”, que segue o formato de calendário, com dados dos participantes, hora e o local da reunião.
Além dos e-mails, a Polícia Federal descobriu mensagens do celular de Cid que indicam que Lindôra teve uma quarta reunião com Bolsonaro na manhã de 26 de março de 2021. Segundo diálogo analisado pela corporação, um ajudante de ordens avisou o tenente-coronel que a vice-procuradora-geral estava chegando com Bolsonaro no palácio.