O hacker Walter Delgatti Neto afirmou ter sido levado ao Ministério da Defesa pelo general Marcelo Câmara, ex-assessor de Jair Bolsonaro, em depoimento à CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do 8 de Janeiro. Ele diz que a ordem partiu do próprio ex-presidente, que pediu que ele invadisse as urnas eletrônicas e o encaminhou à pasta para uma conversa com técnicos.
“Ele me disse que eu estaria salvando o Brasil. Era a liberdade do povo em risco. Eu precisava ajudar ele a garantir a lisura das eleições. A conversa foi evoluindo, chegou à parte técnica, e o presidente disse: ‘Essa parte técnica não entendo nada. Então, eu irei enviá-lo ao Ministério da Defesa e lá com os técnicos você explica tudo isso’. Ele chama o general Marcelo Câmara e fala: ‘Eu preciso que você leve ele até o Ministério da Defesa”, relatou
Segundo Delgatti, o assessor “contrariou” a determinação de Bolsonaro, mas o ex-presidente afirmou que seria uma “ordem” e ele foi levado à pasta “pela porta dos fundos”.
Câmara foi assessor da Presidência da República durante quase toda a gestão Bolsonaro. Ele foi nomeado assessor especial do gabinete pessoal do presidente em 22 de fevereiro de 2019 e acumulou poder entre os auxiliares de Bolsonaro posteriormente.
O militar ganhou destaque em relatório enviado pela Polícia Federal ao Supremo Tribunal Federal (STF). Seu nome foi mencionado mais de cinquenta vezes no documento sobre o esquema de desvio de presentes oficiais durante o governo Bolsonaro.
Foi ele quem disse que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro “sumiu” com kit de joias. “O que já foi, já foi. Mas se esse aqui tiver ainda a gente certinho pra não dar problema. Porque já sumiu um que foi com a DONA MICHELLE; então pra não ter problema”, escreveu em aplicativo de mensagens. O diálogo foi interceptado pela Polícia Federal.
Ele também tentou vende um conjunto de joias, segundo o relatório. Câmara enviou mensagens ao ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, dizendo que conversou com Marcelo da Silva Vieira, ex-chefe do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência da República. No diálogo, o ex-assessor fala sobre a possibilidade de vender os itens que seriam destinados ao acervo privado de Bolsonaro.