Operação Escudo: PM destrói casas de palafita de comunidade no Guarujá (SP), denunciam moradores

Atualizado em 22 de agosto de 2023 às 16:53
Circulam nas redes sociais registros de casas quebradas no Guarujá (SP). Foto: Divulgação

Nesta segunda-feira (21) – três dias depois de assassinar o encanador Willians Santana, elevando para 19 o número de mortos da Operação Escudo –, a Polícia Militar destruiu casas de palafita da comunidade Perequê, no Guarujá (SP), segundo seus moradores.

“Os policiais vêm aqui e fazem isso com as pessoas. Isso é vingança? Isso é o quê? O que eles querem?”, indigna-se Vânia*, uma moradora que, em vídeo, registrou os pedaços de telhas, porta, madeirite e pia espalhados no chão.

“São pessoas que saem de manhã para trabalhar. Para que fazer isso com as pessoas? Ó o que fazem. Chegam quebrando tudo. Ó, derrubou o muro aqui da casinha do rapaz”, diz enquanto mostra os tijolos quebrados. “Vão chegar do serviço e se deparar com o cantinho deles desse jeito”, denuncia.

“Chegam aqui, tão quebrando tudo, sem mandado, não vêm com papel na mão, nada. Isso é uma falta de respeito, estão passando na frente de tudo, como se fossem os donos do mundo”, afirma Vânia.

“Olha só o que eles fazem com as pessoas”, lamentou Janaína* aos prantos. A moradora que teve a casa destruída relatou à Frequência Caiçara que trabalha como faxineira e não estava no momento da demolição.

“A gente acorda cedo para ir trabalhar, para a gente comprar material. A gente não tem condições de morar melhor nem de pagar aluguel. O que a gente ganha mal dá para comer. Aí eles vêm e fazem isso. Quebram tudo. Quebram tudo das pessoas. Deixam a gente se abrigo”, denunciou, chorando.

Questionada sobre a destruição das casas, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), comandada pelo ex-policial da Rota, Guilherme Derrite, disse não estar sabendo. Informou que deve apurar qualquer irregularidade caso os moradores acionem a Corregedoria da PM.

Em 24 dias, 19 mortos e 574 presos

O Perequê é o mesmo bairro onde os moradores foram às ruas, revoltados, depois que, na última sexta-feira (18), policiais do Batalhão de Ações Especiais da Polícia (Baep) mataram Willians Santana a tiros dentro de sua própria casa. Naquela noite, as viaturas da PM se retiraram do local sob os gritos de “assassinos”, “covardes” e “lixo”.

Exaltada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), a Operação Escudo é a mais letal intervenção policial formal do estado de São Paulo desde o massacre do Carandiru, em 1992.

Sem data para acabar, foi deflagrada na Baixada Santista em 27 de julho, como resposta à morte de um soldado da Rota. Até esta segunda-feira (21), além de matar 19 pessoas, a Operação Escudo prendeu outras 574. Organizações civis, como o Movimento Independente Mães de Maio, referem-se a ela como “Operação Massacre”.

Em relação à Willians – que deixa uma filha de 14 anos e outra de dois anos – a versão da SSP-SP é de que a morte foi decorrente de confronto. “Com ele, os policiais encontraram uma mochila com porções de maconha, crack e cocaína, um rádio comunicador e anotações do tráfico. A arma usada pelo criminoso estava com duas munições deflagradas e foi apreendida”, informou o órgão do governo do Estado.

Moradores do Perequê contestam a polícia. Segundo eles, o encanador de 36 anos foi executado, e os objetos apreendidos teriam sido forjados. “A comunidade revoltada. [A PM] matou trabalhador. Maior tiração esses vermes”, diz uma moradora em vídeo do protesto espontâneo que circulou nas redes.

*Os nomes foram alterados para preservação da fonte.

Publicado originalmente no Brasil de Fato

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