Calor extremo e excepcional no inverno atingirá vários estados do Brasil

Atualizado em 22 de agosto de 2023 às 21:29
Mapa meteorológico sobre onda de calor
Reprodução: MetSul

Por Estael Sias

A semana no Brasil terá calor histórico e potencialmente recorde em algumas áreas, adverte a MetSul Meteorologia. Massa de ar excepcionalmente quente tomará conta de grande parte do território brasileiro com marcas extremas para o inverno em muitas localidades. Máximas perto ou acima de 40ºC são esperadas em vários estados.

A semana começa com uma massa de ar frio influenciando o tempo mais ao Sul do Brasil, mas entre terça e quarta-feira, com um profundo centro de baixa pressão, ar muito quente chegará à Região Sul, elevando fortemente a temperatura nos três estados da região.

Na sequência, a baixa pressão e uma frente fria devem trazer chuva e temporais localmente fortes para o Sul enquanto o ar quente se reforçará incrivelmente na parte central do país. Ao final, uma massa de ar frio de forte intensidade vai avançar a partir do Sul do país na segunda metade da semana.

O calor vai atingir marcas impressionantes para o mês de agosto em vários estados do Brasil. O calor extremo será sentido em grande parte do país, incluindo o Sul, o Centro-Oeste e o Sudeste com máximas perto e acima de 40ºC. Inicialmente, calor extremo atingirá áreas da região amazônica e, depois, migrará para o Centro-Sul do Brasil.

O pior do calor é previsto para as regiões Centro-Oeste e Sudeste, onde em várias cidades as máximas entre quarta e quinta-feira devem ficar perto ou superar os 40ºC com marcas em diversos pontos que não costumam ocorrer nem nos dias mais quentes do verão.

Há potencial para recordes de temperatura máxima do mês de agosto em diversos estados, incluindo os do Sudeste. Embora calor muito intenso não seja incomum de ocorrer às vezes no Sudeste nesta época e bastante frequente no Centro-Oeste pelo auge da estação seca, o que se espera nesta semana excederá os padrões climatológicos de agosto em muitas cidades.

Calor aumenta no Sul na terça

Uma massa de ar muito quente ingressa no Rio Grande do Sul na terça com máximas que em vários ponto do estado podem ficar entre 32ºC e 34ºC, e talvez até isoladamente superiores. As maiores marcas na terça no território gaúcho são esperadas nos vales, na Grande Porto Alegre, no Centro do estado, no Oeste e no Noroeste. Na mesma tarde, as máximas atingirão 40ºC a 42ºC no Norte do Paraguai.

O ar quente estará vindo do centro do bolsão de ar mais quente no Centro-Oeste e no Norte do Paraguai, onde na tarde da terça as máximas devem atingir entre 38ºC e 42ºC em diversos municípios do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e áreas mais a Oeste e o Noroeste de Goiás.

Com uma corrente de jato (vento) em baixos níveis da atmosfera, com forte a intenso vento do quadrante Norte, a disparada da temperatura será enorme no Rio Grande do Sul na terça e as máximas podem, inclusive, ficar acima do previsto pelos modelos, passando de 35ºC.

Pior do calor no Brasil começa a se instalar na quarta

Na quarta-feira, começa a se instalar condição de temperatura excepcionalmente alta em vários estados do Centro-Sul com marcas incomuns para esta época do ano e potencialmente recordes em muitas cidades para o mês de agosto. Máximas perto e acima de 40ºC podem se dar em várias localidades.

No Rio Grande do Sul, na quarta, o Noroeste e o Norte do estado terão o calor mais intenso com máximas de 33ºC a 35ºC. Em Santa Catarina, a quarta-feira deve ter marcas de 32ºC a 34ºC no Oeste catarinense, mas no Sul catarinense e no Vale do Itajaí podem ocorrer máximas de 35ºC a 38ºC, isoladamente superiores. Grande parte do Paraná terá máximas ao redor ou acima de 30ºC, inclusive a região de Curitiba, e no Norte paranaense os termômetros podem marcar até 37ºC ou 38ºC.

O calor ganha muita força na quarta também no Sudeste do Brasil. Na Região Sudeste, a tarde de quarta deve ter máximas ao redor ou acima de 35ºC em grande parte do interior de São Paulo com marcas de 37ºC a 40ºC em pontos do Oeste e do Norte do estado paulista assim como no litoral e no Vale do Ribeira. O calor será extremo também no Rio de Janeiro com máximas à tarde de 36ºC a 39ºC em muitas cidades, especialmente perto da costa. Máximas de 37ºC a 40ºC são previstas quarta à tarde no Triângulo Mineiro.

A quarta-feira será tórrida também no Centro-Oeste com máximas de 37ºC a 40ºC em grande parte do Mato Grosso do Sul e de 39ºC a 43ºC em quase todo o Mato Grosso. O Oeste e o Sul de Goiás terão também um dia tórrido com máximas em muitas cidades de 37ºC a 40ºC.

Pico do calor em alguns estados será na quinta

Na quinta, em grande parte do Sul já terá refrescado, mas o Norte do Paraná ainda terá calor muito intenso com máximas de 35ºC a 38ºC. O pior do calor na quinta, entretanto, estará reservado para o Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil.

Repete-se no Centro-Oeste na quinta o calor excepcional para agosto da véspera com tarde em que as máximas devem ficar acima de 35ºC em todo o Mato Grosso do Sul e perto ou acima de 40ºC em vários localidades, não se descartando 41ºC a 42ºC na região do Pantanal. Outra vez, quase todo o Mato Grosso deve ter máximas de 38ºC a 42ºC com marcas até acima em alguns pontos. Goiás seguirá muito quente com máximas próximas ou acima de 40ºC na divisa com o Mato Grosso.

No Sudeste, o calor atingirá seu máximo de intensidade na quinta-feira com temperaturas que muito dificilmente são observadas no verão em diversas cidades. Grande parte de Minas Gerais terá 30ºC a 35ºC com marcas de 37ºC a 40ºC tanto no Norte do estado como na área do Triângulo Mineiro.

Refresca no extremo Sul paulista, mas em grande parte do estado de São Paulo a quinta-feira terá máximas perto ou acima de 35ºC. Máximas de 37ºC a 40ºC podem ser registradas quinta à tarde no Oeste, Noroeste e no Norte de São Paulo, além do Litoral Norte paulista.

No Rio de Janeiro, o calor será excepcional e mesmo extraordinário para o mês de agosto na quinta com os modelos numéricos indicando máximas de 38ºC a 40ºC em diversos municípios e marcas até de 40ºC a 42ºC em alguns pontos. O calor será mais intenso na costa, mas mesmo na Região Serrana o dia será atipicamente quente.

Alívio em muitos locais na sexta

Na sexta, à medida que uma frente fria avança pelo Sul do Brasil, o calor cede em muitas áreas do Sudeste do Brasil enquanto o frio se intensifica no Sul. Seguirá, contudo, muito quente na maior parte do Centro-Oeste, no Norte de São Paulo e em parte do estado de Minas Gerais. A temperatura declina no Rio de Janeiro e no Sul e no Leste de São Paulo. Calor muito intenso é previsto para o Norte de Minas Gerais.

Possibilidade de recordes

A temperatura vai atingir valores tão elevados no meio desta semana que poderá quebrar recordes históricos de temperatura máxima mensal. O estado de São Paulo, por exemplo, pode anotar valores históricos de temperatura elevada para agosto em diversas cidades, incluindo na capital.

A temperatura na tarde da quarta-feira na cidade de São Paulo, na estação oficial do Mirante de Santana, pode atingir valores de 32ºC a 34ºC, logo na faixa dos dias mais quentes já anotados desde o começo das medições na estação em 1943 e com possibilidade de estabelecer recorde mensal.

O recorde de calor para o mês de agosto na estação de referência climatológica da cidade de São Paulo é de 33,1ºC, em 1952 e 1955. Na segunda colocação do ranking, aparece registro de 33,0ºC em 31 de agosto de 1963. Na sequência, na terceira posição dos dias mais quentes de agosto, há registro de 32,8ºC em 28 de agosto de 1961 e 26 de agosto de 2021.

Não se pode descartar calor recorde ou perto de valore recordes também na cidade do Rio de Janeiro, onde em diversos bairros as máximas devem se aproximar dos 40ºC na metade da semana, não se afastando até medições localizadas ao redor ou acima de 40ºC.

A cidade do Rio de Janeiro possui uma série de medições descontinuadas que dificultam se fazer comparações históricas. A estação meteorológica de Bangu, por exemplo, já desativada, chegou a registrar enquanto esteve em operação máxima de 40,2ºC em agosto. Há precedentes de 38ºC a 39ºC no mês em Santa Cruz e no Alto da Boa Vista.

Corredor de vento favorecerá calor extremo

O calor extremo para agosto esperado em parte desta semana no Centro-Oeste, no Sudeste e no Sul do Brasil será consequência da atuação de uma forte a intensa corrente de jato em baixos níveis da atmosfera que transportará ar muitíssimo quente do Norte do Brasil e áreas mais ao Norte do Centro-Oeste em direção ao Sul e o Sudeste.

 

Na terça-feira, a corrente de jato em baixos níveis atuará com maior intensidade nos estados do Sul, em particular no Rio Grande do Sul, onde, além do calor, poderá provocar fortes rajadas de vento do quadrante Norte que poderão ficar entre 50 km/h e 70 km/h em diversas cidades. Em alguns locais, por efeito do relevo, o vento deve ser mais forte e pode atingir marcas de 70 km/h a 90 km/h. Na quarta e na quinta, o jato de baixos níveis estará sobre o Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil.

Justamente a corrente de jato em baixos níveis nos leva a crer que haverá calor muito intenso a extremo inicialmente a Leste da Serra do Mar no Sul do Brasil e depois a Leste da Serra, na costa, no Sudeste do Brasil. Por isso, marcas excepcionais de calor para agosto poderão ser anotadas em cidades costeiras de São Paulo e Rio de Janeiro que estão junto aos mortos da Serra, uma vez que o vento de Oeste a Norte ao descer as encostas se comprimirá e gerará um superaquecimento denominado tecnicamente de aquecimento adiabático.

Em termos leigos, a corrente de jato em baixos níveis é uma corrente de ar estreita encontrada na baixa atmosfera, normalmente em torno do nível de pressão de 850 hPa (ou cerca de 1500 metros de altitude), atuando entre um e dois quilômetros de altura. Ou seja, é um corredor de vento nas camadas baixas da atmosfera.

Estas correntes de jato em baixos níveis (JBN) a Leste dos Andes trazem ar quente e costumam se originar na Bolívia ou no Centro-Oeste do Brasil. O corredor de vento, em regra, tem uma extensão de centenas de quilômetros do Sul da região amazônica até a bacia do Rio Prata ou o Rio Grande do Sul, para onde transporta ar quente, normalmente antes de frentes frias e ciclones.

Publicado originalmente no MetSul

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