Cid Gomes mitou em sua missão suicida na Câmara. Por alguns longos minutos falou o que todo o mundo sabe e pegou de surpresa os que esperavam um ato de contrição.
Gomes fora convocado pelo Legislativo para “explicar” uma declaração dada na Universidade Federal do Pará, numa clara demonstração de intimidação. “Tem lá uns 400 deputados, 300 deputados que quanto pior melhor para eles”, contou num palestra. “Eles querem é que o governo esteja frágil porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais dele, aprovarem as emendas impositivas”.
Ao invés de desculpas, partiu para cima. Saiu do plenário já demitido, depois de um massacre que culminou com Sérgio Zveiter (do PSD-RJ, que se livrou de uma ação por abuso de poder econômico e utilização indevida de meios de comunicação) o chamando de “palhaço”. Sintomaticamente, quem anunciou a saída de Gomes foi Eduardo Cunha.
Em seus instantes de sincericídio, o ex-ministro da Educação conseguiu dizer o seguinte:
. “Sempre tive respeito pelo Parlamento. Isso não quer dizer que eu concorde com a postura de alguns, de vários, de muitos que mesmo estando no governo, com seus partidos participando no governo, tenham uma postura de oportunismo”.
Mentira?
. “Partidos de oposição têm o dever de fazer oposição. Partidos de situação têm o dever de ser situação ou então larguem o osso, saiam do governo”.
Mentira?
“Prefiro ser acusado por ele de mal-educado do que ser acusado como ele de achaque”, afirmou ainda, apontado o dedo para Cunha.
Na sequencia, os deputados fizeram fila para lhe bater, sob o comando do presidente da Câmara, visivelmente consternado (o rosto de Cunha adquire um tom aflitivamente rosado sob tensão). Lembraram até da sogra de Gomes.
De volta à tribuna, ele atacou: “Uns tinham cinco e agora têm sete [ministérios]. Logo vão querer a presidência. Tenho convicção de que Dilma é vítima de setores da sociedade, como políticos e empresários”.
Leonardo Picciani (cujo patrimônio declarado foi de R$ 365.624,60 em 2000 para R$ 9.885.603), líder do PMDB, ficou feliz com o desfecho da história: “Não esperávamos outra atitude que não fosse essa [a demissão]. O que ele demonstrou aqui foi falta de formação democrática, de formação republicana. Ele saiu daqui como um fanfarrão”, disse o fanfarrão.
Não saberemos como Cid Gomes teria se saído como ministro, mas no papel de manifestante contra a corrupção ele deu uma aula.