Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) do IBGE, aponta que jovens e adultos que estudaram de 12 a 16 anos ou mais tiveram perda de renda mais acentuada que os menos escolarizados.
Segundo a pesquisa, os últimos dez anos foram trágicos em termos de renda e qualidade de empregos para os brasileiros que possuem mais qualificação. Isso refletiu em um abrupto aumento da informalidade entre eles, que atingiu também pessoas que estudaram de 9 a 11 anos.
De maneira geral, despencou também a vantagem, em termos de rendimentos do trabalho, de quem estudou mais de 16 anos em relação àqueles com menos de um ano na escola.
Em 2012, o retorno positivo da educação na renda desse grupo chegava a 641%. No segundo trimestre deste ano, caiu para 353%. Entre os que tinham de 12 a 15 anos de estudo, em comparação com aqueles com menos de um ano, o porcentual caiu de 193% para 102%.
Ainda segundo a pesquisa, o rendimento médio dos que estudaram de 12 a 15 anos teve uma queda de 11,2%. Para aqueles que estudaram 16 anos ou mais, a queda foi ainda mais acentuada, chegando a 16,7%.
“O ensino superior está dando menos retorno no Brasil; uma novidade muito ruim. É um claro indicador de uma economia pouco dinâmica, com empresas pouco ativas, e com outras mais produtivas que não crescem”, afirmou Fernando Veloso, um dos autores do trabalho.
“Como essas empresas não evoluem por todas as mazelas que conhecemos —sistema tributário, infraestrutura, economia fechada—, o pessoal chega ao ensino superior, mas ou não tem trabalho ou o salário que esperava”, acrescentou.
Além do ambiente de negócios desfavorável, os pesquisadores destacam que o desequilíbrio nas contas públicas é um dos principais fatores a empurrar os mais escolarizados para empregos de baixa qualidade. Nos últimos oito anos, a relação entre a dívida bruta do país e o PIB (Produto Interno Bruto) saltou 17 pontos, para 74,1%.
Em média, de acordo com o Ibre-FGV, a renda dos trabalhadores (formais e informais) com 16 anos ou mais de estudo caiu, entre 2012 e 2023, de R$ 7.211 para R$ 6.008, em valores corrigidos pela inflação.
Para aqueles com 12 a 15 anos de estudo, o rendimento médio (formal e informal) também caiu de R$ 2.630 para R$ 2.336 no mesmo período. O número de trabalhadores informais nesta faixa aumentou de 10 milhões para 14,9 milhões. A taxa de informalidade saltou de 27% para 33,6%.
De 2012 a 2023, a renda do trabalho aumentou apenas para aqueles com menos escolaridade. escolarizados. Para aqueles que não completaram um ano de estudo, os rendimentos cresceram 27,5%. Já a queda na taxa de informalidade caiu de 75,2% para 72,5%.
Entretanto, a maior parte do ganho deste segmento ocorreu a partir do começo de 2020, com a chegada da pandemia de Covid-19. Uma das explicações é que, com o isolamento social, houve valorização da mão de obra menos qualificada disposta a trabalhar naquele período.