CPMI do 8/1 não terá anistia para militares e Múcio é ingênuo, diz Rogério Correia ao DCM

Atualizado em 4 de setembro de 2023 às 15:24
O deputado federal Rogério Correia. FOTO: Site do Partido dos Trabalhadores

Um dos parlamentares mais atuantes na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga os atos de 8 de janeiro, o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) rechaçou qualquer possibilidade de anistia aos generais das Forças Armadas suspeitos de participação na tentativa de golpe contra o governo Lula.

Sobre Gonçalves Dias, Rogério Correia avalia que o general ex-chefe do GSI foi, no mínimo, ingênuo, por não trocar uma equipe que havia sido nomeada pelo general Heleno. O deputado mineiro também acredita que ainda falta ao ministro da Defesa, José Múcio, reconhecer a ausência de republicanismo característica de alguns membros das Forças Armadas, estimulados pelo golpismo de Bolsonaro.

Correia também confirmou a convocação do ex-comandante Militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, e a reconvocação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid: “Eu acho que ele será o próximo a ser ouvido. Se ele falar, mesmo, sobre o golpe, teremos que chamar o Bolsonaro e a Michelle”, disse.

Confira a entrevista:

DCM: Tem alguma chance dessa CPMI acabar em pizza para os militares?

Rogério Correia: Não. Já são sete comandantes da Polícia Militar presos, a partir de investigação da PGR e da PF. Em relação às Forças Armadas, a PGR e a PF também seguem investigando, e isso repercute na CPMI. No caso das Forças Armadas, foram muitos generais que contribuíram para esse processo de golpe. Não foi à toa que, na porta dos quartéis, eles mantiveram aqueles movimentos. Inclusive, alguns deles fizeram força para que os golpistas não saíssem. No caso de Brasília, o general Dutra não permitiu que as pessoas fossem retiradas da frente do QG. O general Dutra vai ter que ser ouvido. Assim como os outros generais envolvidos.

Já tem convocação do general Dutra? Para quando?

Ainda vamos marcar a data. Mas, com certeza, ele vai ser ouvido. Temos que votar ainda a convocação do general Paulo Sérgio Nogueira, o ex-ministro da Defesa que recebeu o hacker para fazer aquela confusão de urna fake. É fundamental que ele vá. Enfim, não vai ‘acabar em pizza’. Na CPMI, temos reforçado a necessidade de que todos os generais envolvidos sejam investigados.

A posse de José Múcio Monteiro no Ministério da Defesa, ao lado dos chedas das Forças Armadas
Foto: Reprodução/Gov

E como o senhor avalia o depoimento do general G. Dias? 

O pastor Henrique Vieira (Psol-RJ) fez a melhor analogia. O G. Dias era o goleiro de um time em que a defesa jogava para o time adversário. Uma defesa de quinta coluna, escalada pelo general Heleno. Eu acho que ele foi ingênuo, confiou demais no papel republicano das Forças Armadas, que, com o Bolsonaro, passou a não existir. Na minha opinião, O G. Dias achava que as Forças Armadas respeitariam a Constituição, e “entrou em campo” com o time do general Heleno, um golpista confesso. Ele foi traído. Essa é a primeira observação. A outra é que, dentro do processo todo da tentativa de golpe, ele era a última cidadela, vamos dizer assim. A Polícia Militar do Distrito Federal já tinha aberto tudo. As pessoas já tinham ido para a Esplanada com intenção golpista, financiadas por outros. A tentativa da oposição é criar uma cortina de fumaça para não enxergar o processo de golpe. Apontam para a árvore, “esquecendo” o resto da floresta.

Qual seria a punição para os militares das Forças Armadas envolvidos?

A mesma de qualquer cidadão que participou da tentativa de golpe. Crimes como o de atentado à Constituição, abolição violenta do Estado de Direito; todos os que já estão sendo considerados. E a pena vai ser dura.

Como se daria esse processo?

Cabe à CPMI indiciar e, ao indiciar, pedir que a Justiça aplique a pena legal. A Comissão Parlamentar de Inquérito não dá a dosimetria da pena. Ela indicia, e eles, com certeza, serão indiciados. Acho, inclusive, que alguns deles serão indiciados também por crime de corrupção. Não adianta o presidente da CPMI, deputado Arthur Oliveira Maia (União-BA), dizer que não vai analisar o caso das joias, porque isso está no interior de um processo de golpe em que pessoas, individualmente, se corromperam ou arrumaram recursos para o financiamento de um golpe. Mas a corrupção individual foi também para financiar a vida deles no processo golpista. Faz parte.

A CPMI pretende convocar Mauro Cid novamente?

Sim. Já está aprovado o requerimento. Vamos ver se, dessa vez, ele fala.

Também já está aprovada a convocação do general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, o general Dutra, ex-comandante do Comando Militar do Planalto. Não teremos sessão esta semana. Vamos aguardar os acontecimentos com relação à possível delação do Mauro Cid. Eu acho que ele será o próximo a ser ouvido. Se ele falar, mesmo, sobre o golpe, inclusive, teremos que chamar o Bolsonaro e a Michelle. Vamos esperar um pouco os avanços.

E como o senhor vê a atuação do José Múcio no Ministério da Defesa?

Eu acho que o Múcio tem um grau de ingenuidade semelhante ao do G. Dias. No sentido de achar que as Forças Armadas atuam plenamente de forma republicana para o Estado. Para mim, depois do governo Bolsonaro, elas não estavam assim. As Forças Armadas terão de se transformar, de novo, em uma instituição que respeite o Estado, em uma instituição que atue de forma republicana, e não politizada. Com o Bolsonaro, parte da instituição se tornou golpista. Parte. Temos de separar o joio do trigo, mas uma grande parte das Forças Armadas se politizou conforme quis o Bolsonaro. Eu, honestamente, acho que o Múcio não enxerga isso. Assim como o G. Dias não enxergou. Hoje, o G. Dias enxerga.

O que está faltando para o Múcio enxergar isso, deputado?

Ah, boa pergunta. Você teria que perguntar a ele. Não existe anistia. Eu tenho deixado isso claro e o próprio presidente Lula, também. O STF, da mesma forma. Não pode haver anistia.