Pensar em violência no 7 de Setembro é admitir que o fascismo ainda esperneia. Por Moisés Mendes

Atualizado em 5 de setembro de 2023 às 7:28
Bolsonaro em ato do 7 de Setembro. Foto: Reprodução

No ano passado, a pessoa mais próxima de Bolsonaro no palanque do 7 de Setembro na Esplanada era, claro, Michelle. E depois de Michelle, o véio da Havan.

Dois generais, o vice Hamilton Mourão e o que viria a ser o vice na chapa derrotada, Braga Netto, estavam no palanque da segunda aglomeração na Esplanada atrás do véio, que vestia um terno verde.

Esse ano não tem Braga Netto, nem Mourão, nem véio da Havan, nem palanque político montado pelo agro pop e muito menos Michelle e Bolsonaro.

Daquele palanque do golpe na Esplanada, quando Bolsonaro puxou o coro de imbrochável, a maioria tem hoje problemas com o Ministério Público e Justiça comum e eleitoral.

Mas ninguém imagina que algum deles possa incitar atos de sabotagem do 7 de Setembro de Lula, que não terá tanques fumegantes nem Edir Macedo, como em 2021.

Braga Netto e Hamilton Mourão não dão um pio há muito tempo. Bolsonaro e a mulher sabem que perderão as joias e os dedos. E o véio da Havan já avisou que agora está, quietinho, no mesmo avião pilotado por Lula.

As ameaças mais ostensivas partem do pastor Malafaia e de tios do zap. Malafaia diz o que pensa há muito tempo e continua impune. Porque é complicado enquadrar um pastor com milhões de fiéis.

A dúvida é se a incitação de Malafaia pode ser suficiente para mobilizar alguns manés, mesmo que com menos gente do que no 8 de janeiro.

Bolsonaro no desfile cívico-militar do 7 de Setembro de 2022. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Quem vai se arriscar, sabendo que mais de 1,4 mil invasores e incitadores de invasões em Brasília foram presos?

O que deveria surpreender, mas não causa surpresa alguma, é que se considere a hipótese de que algo possa acontecer durante a festa em Brasília.

Depois de tudo oque aconteceu após o 8 de janeiro, depois da transformação dos manés invasores dos prédios dos três poderes em réus, depois do avanço do cerco a Bolsonaro, pode parecer estranho que ainda se considere a possibilidade de novos atos violentos.

E o simples fato de o país levar essa possibilidade em conta desmonta as afirmações, algumas categóricas, de que os tempos de exceção passaram e voltamos à normalidade.

A força policial mobilizada, a admissão pelo governo de que há riscos, as especulações feitas pela imprensa, as ameaças de Malafaia, tudo sugere que não há normalidade.

O que o conjunto de apreensões acaba denunciando é que o fascismo está vivo, principalmente na faixa intermediária, que fica entre os manés e as lideranças com poder e comando dos bolsonaristas.

O fascismo orgânico, o extremismo da raiz do bolsonarismo, principalmente o endinheirado, ainda esperneia e pode estar mais organizado do que se pensa.

Publicado originalmente em Blog do Moisés Mendes

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