“A Globo assume um poder divino”, disse ator que teve contas bloqueadas a pedido da emissora

Atualizado em 10 de setembro de 2023 às 9:38
Ewerton de Castro

A Justiça de São Paulo decidiu congelar os fundos bancários do ator Ewerton de Castro, de 77 anos. O magistrado Rogério de Camargo Arruda emitiu o veredito em 30 de agosto, acatando um pedido da Rede Globo.

Castro deve à emissora aproximadamente R$ 335 mil por quebrar um contrato em 2002, ao deixar as filmagens da minissérie “O Quinto dos Infernos”. A quantia, atualizada até agosto corrente, abrange juros e correção monetária, além dos custos legais da Globo. O caso já é definitivo, sem possibilidade de apelação quanto ao conteúdo.

A Globo reclamou de quebra de contrato e o processou, exigindo o pagamento de multa. Alegou que foi pega de surpresa e sofreu inúmeros transtornos com o abandono.

Na ocasião, Ewerton deu entrevista à Folha em sua escola de teatro, em São Paulo, sobre os motivos da decisão. “Não fui respeitado artisticamente. Meu personagem em “O Quinto” [Cauper, um comerciante] não tinha falas e nunca era enquadrado pela câmera. Não pensei que eles chamariam a mim, um profissional com 34 anos de carreira, para fazer praticamente uma figuração”, disse.

Mais:

Perguntaram milhares de vezes se eu tinha certeza do que estava fazendo. A relação que existe entre a Globo, todo-poderosa, e os atores é tão injusta que, quando alguém diz “não”, eles dizem que não ouviram direito. Eles não acreditam que alguém não queira trabalhar lá. Sabem que há uma fila na porta implorando para entrar a qualquer preço. (…)

A Globo está mal-acostumada. Acaba sucateando o mercado. Eles pensam assim: “Todo mundo quer trabalhar aqui, então não precisamos tratar bem ninguém.” Isso, de certa forma, é repetido por outras emissoras. Há atores que já tiveram muita fama e são tratados como mendigos quando vão pedir trabalho. (…)

A Globo acaba assumindo uma espécie de poder divino. Mas eles fazem isso para sua auto-estima cair e você começar a aceitar qualquer coisa que eles oferecerem. Abençoados são os que não precisam da TV para viver. (…) Se me respeitarem artisticamente, posso até voltar. O que tenho recebido de parabéns de colegas meus…