Príncipes não salvam os terroristas do 8 de janeiro. Por Moisés Mendes

Atualizado em 15 de setembro de 2023 às 6:53
O advogado Hery Waldir Kattwinkel durante sua exposição no STF. Reprodução

O advogado Hery Kattwinkel Júnior (foto), defensor do réu Thiago de Assis Mathar, um dos terroristas do 8 de janeiro em Brasília, deu um show ao tentar defender o mané nessa quinta-feira no Supremo.

Fez a defesa oral do sujeito e conseguiu cometer uma gafe que envergonharia p Rolando Lero da Escolinha do Professor Raimundo, ao levar dois príncipes para dentro da mais alta Corte do país.

O advogado fez o que seria uma citação e confundiu O Príncipe, de Maquiavel, com O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry.

Afirmou o advogado ao se queixar do julgamento que, segundo ele, já antecipava a condenação dos réus:

“Disse o pequeno príncipe: os fins justificam os meios. E podemos passar por cima de todos”.

E assinou a frase, com ênfase e voz empostada:

“Maquiavel”.

Essa frase, sempre citada em resumos grosseiros do pensamento de Maquiavel, não existe no Príncipe, que o advogado achava que estava citando ao falar do outro príncipe de Exupéry.

Moraes registrou a gafe do advogado. Pois essa é a extrema direita brasileira.

O Príncipe é um livrinho de menos de 100 páginas, que, mesmo não sendo uma biografia, qualquer Sergio Moro lê em dois dias. Mas alguns vão ler e reler várias vezes e não entenderão nada.

O sujeito defendido pelo advogado pegou 14 anos de cadeia por associação criminosa armada, abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça, além de deterioração de patrimônio tombado.

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A advogada Larissa Cláudia Lopes de Araújo. – Reprodução

CHORO
A advogada Larissa Cláudia Lopes de Araújo (foto), defensora do réu Matheus Lima de Carvalho Lazaro, disse no Supremo, ao defender o sujeito, que pensa um dia em sentar-se na cadeira da Procuradoria-Geral da República ou quem sabe numa das cadeiras do Supremo.

Larissa falava e dizia estar chorando por causa da situação de Matheus. O interessante é que as falas da advogada e do colega que a antecedeu na tribuna dos defensores, Hery Kattwinkel Júnior, tiveram o tom da retórica religiosa da extrema direita.

Alexandre de Moraes sintetizou a tática, logo depois da performance de Kattwinkel Júnior.

A intenção, disse o ministro, mais do que apresentar argumentos técnicos em defesa dos clientes, era a de produzir vídeos com momentos marcantes para as redes sociais, com ataques ao STF. Eles foram lá para fazer lacração.

E assim caminha o Direito exercido pelos defensores de extremistas, com citações de Voltaire, Pôncio Pilatos, Montesquieu, Cristo, Deus e o diabo.

Uma indigência geral, e não só jurídica, que certamente nunca foi vista antes no STF e em qualquer tribuna do Judiciário.

A extrema direita brasileira é um desastre até quando tenta fazer citações. Exupéry não disse, mas poderia ter dito: você é responsável pela ignorância que cultivas.

(O cliente de Larissa Cláudia Lopes de Araújo foi condenado a 17 anos de prisão)

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URGÊNCIA
Os advogados de defesa dos terroristas do 8 de janeiro, que se apresentaram ontem e hoje no Supremo, são a prova de que precisamos sim da inteligência artificial.

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TÁTICA
Dois ministros do Supremo acham que os terroristas do 8 de janeiro invadiram o Supremo só para quebrar mesas e cadeiras e não para afrontar o Supremo e forçar um golpe.

E são ministros do Supremo, que hoje não funcionaria como funciona se o golpe tivesse dado certo.

Esse é o país do Tim Maia. Dois ministros do Supremo que estão ali para defender o Supremo não ‘entendem’ por que o Supremo foi invadido e depredado.

Por que não entendem? Porque, se admitirem que foi tentativa de golpe, terão de admitir mais adiante que é preciso encontrar e punir os chefes do golpe, e não só os manés.

E os chefes do golpe, para esses ministros, não podem ser identificados, julgados e punidos.

E assim o 8 de janeiro fica, pelo menos para esses dois ministros, apenas como uma quebradeira.

Publicado originalmente em Blog do Moisés Mendes

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