A médica Elisa Brietzke se manifestou sobre a “masturbação coletiva” de alunos da Unisa (Universidade Santo Amaro) e pediu uma “ação imediata e exemplar” contra os alunos da instituição que participaram do episódio. Ela relata episódios de assédio e abusos durante a graduação e diz que o episódio não ocorre “do nada”, já que “a faculdade já ensinou a eles que eles podem”.
Leia o relato na íntegra:
Uma MULHER na Faculdade de Medicina
Quando entrei na faculdade, a primeira semana era de trote. Fui no primeiro dia, vi o nível de abuso (moral, sexual, financeiro, físico) e faltei o resto dos dias. Muitos colegas me jogaram para o ostracismo, afinal como eu podia não estar levando aquele horror como brincadeira?
Depois vieram as festas universitárias, em que se bebia excessivamente e consentimento ainda não era uma palavra que fazia parte do nosso vocabulário. Uma vez achamos uma menina desacordada de calças arriadas na escada que dava acesso aos andares superiores da faculdade. Ela não quis prestar queixa.
Foram 6 anos de professores e colegas fazendo falas machistas diariamente “Opera que nem homenzinho”; “muita mulher trabalhando junto não dá”; “tu tem jeito com criança, faz pediatria”.
Abordagens em eventos e congressos eram comuns, já que residentes e professores estavam sem as respectivas cônjuges. Uma vez tive que ameaçar gritar para que um professor saísse da frente da porta do quarto do hotel em que eu estava.
Imagens e piadas sexistas são usadas durante as aulas e geram pouca ou nenhuma reação. Quando alunas reagem, normalmente o professor é visto como vítima de um ataque de “feminazis”, tadinho…
A relação hierárquica estabelecida entre aluna e professor a deixa vulnerável a assédio sexual e moral. Já é quase regra orientadores de pós graduação darem em cima de alunas e colegas. Isso causa sofrimento e faz mulheres desistirem da pós.
Os cânticos de torcida da medicina remetem a falas machistas: “medicina é papa fina, não é coisa pra menina”. Isso cristaliza a cultura institucional.
Não é do nada que uma dúzia de caras saem de pênis para fora no meio de um jogo de vôlei feminino. A faculdade já ensinou a eles que eles podem, que quem veio antes pôde e que quem vem depois também vai poder.
Tenho certeza absoluta que o que passei não é exclusividade da minha experiência. Não há mulher que tenha passado pela medicina sem, no mínimo, ser vítima de micro agressões relacionadas a gênero (isso sem fazer outros recortes).
Precisamos uma ação imediata e exemplar. As instituições precisam mudar! Chega de assédio!
2) Depois vieram as festas universitárias, em que se bebia excessivamente e consentimento ainda não era uma palavra que fazia parte do nosso vocabulário. Uma vez achamos uma menina desacordada de calças arriadas na escada que dava acesso aos andares superiores da faculdade. Ela…
— Elisa Brietzke MD, MsC, PhD. (@e_brietzke) September 18, 2023