Lula lá na ONU: Romper com a nova dependência. Por Marcio Pochmann

Atualizado em 20 de setembro de 2023 às 11:18
Lula discursa na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Foto: TIMOTHY A. CLARY / AFP

Por Marcio Pochmann

Em discurso arrebatador na ONU, o presidente Lula reafirmou: “O Brasil está de volta”. Após ter visitado 21 países em menos de 9 meses, o Brasil ascendeu ao plano internacional.

Ao mesmo tempo, busca se reconectar internamente consigo mesmo e, externamente, com o continente americano e com o mundo.

Certamente, uma nova posição desafiadora, justamente no mundo que se reconfigura diante da profunda transformação digital e seus impactos na Divisão Internacional do Trabalho.

No final dos anos de 1960, a teoria da dependência se tornou relevante aos países periféricos da época ao revelar a permanência de traços mais sofisticados do subdesenvolvimento, não obstante o salto modernizante ocorrido na transição do longevo agrarismo para a nova sociedade urbana e industrial.

O Brasil havia montado o exitoso padrão de colaboração entre o Estado, capital nacional e estrangeiro na periferia do capitalismo mundial, embora a fonte chave da vantagem comparativa, especialmente tecnológica, seguia centrada em corporações transnacionais.

Na tentativa de reverter o real processo da dependência externa, o governo civil-militar implementou a política de informática com reserva de mercado para empresas nacionais e incorporação de mão de obra qualificada.

Entre 1979 e 1983, em plena recessão econômica, as empresas brasileiras saltaram de 23% para 46% de todas as vendas de computadores no país, ao mesmo tempo em que permitiu formandos das áreas de exatas deixassem de ser vendedores nas empresas estrangeiras, como IBM e Burroughs, instaladas desde 1924 no Brasil, para assumirem postos de relevância nas empresas nacionais (cobra, Itaú-Tec e outras).

O ingresso passivo e subordinado na globalização a partir de 1990 jogou fora a estratégia soberana brasileira do desenvolvimento tecnológico, o que o tornou cada vez mais um país exportador de produtos primários e depende, crescentemente, da importação de bens e serviços digitais.

Em pleno processo de digitalização da economia brasileira, a mudança tecnológica reafirma as suas condições de aprofundamento da dependência econômica nacional.

Por isso, a dependência digital por ser ainda mais sofisticada assume simultaneamente uma possibilidade de superação quanto a reprodução do subdesenvolvimento, cujas consequências principais se expressam nas várias formas de desigualdades.

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clique neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link