O cirurgião proctologista Paulo Augusto Berchielli, de 63 anos, teve sua prisão decretada pela Justiça após denúncias de estupro feitas por várias pacientes em sua clínica na zona leste da capital paulista. As vítimas relataram uma série de condutas inapropriadas e abusivas cometidas pelo médico durante procedimentos médicos, incluindo o fato de serem infeccionadas por HPV após as cirurgias.
O Metrópoles teve acesso a áudios reveladores, nos quais algumas das vítimas narram os terríveis acontecimentos vivenciados nas mãos do cirurgião. Uma enfermeira de 47 anos, estuprada após uma cirurgia de hemorroida em agosto de 2021, descreveu a agonia que sentiu após o incidente: “Do jeito que eu cheguei [em casa], deitei e dormi de sexta-feira até domingo. E domingo, quando acordei, falei: ‘Aconteceu alguma coisa’. Sentia dores horríveis [nas partes íntimas].”
O relato dessa enfermeira é apoiado por evidências concretas. Um laudo da Polícia Científica confirmou a presença de sêmen em sua calcinha, que inexplicavelmente havia desaparecido da 5ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) e, posteriormente, reaparecido. A vítima também afirmou ter sido alvo de chacota por parte de policiais quando questionou o paradeiro da peça de roupa.
Outras vítimas compartilharam experiências semelhantes, descrevendo casos em que Berchielli as teria instruído a tirar as roupas para procedimentos rotineiros, como aferição de pressão e ausculta cardíaca. Uma paciente relatou que o médico a obrigou a tirar toda a roupa para verificar sua pressão arterial, enquanto ele a observava de maneira excitada.
“‘Você vai tirar toda sua roupa, para eu verificar sua pressão’ [disse o médico]. Aí eu falei: ‘Meu braço está aqui, não precisa tirar toda a roupa’. Aí ele veio atrás de mim, estava totalmente excitado. Encostou em mim, passou a mão no meu corpo. Depois disse: ‘Pode pôr a roupa e ir embora’”, relembrou uma das mulheres.
Outra vítima, que foi submetida a uma cirurgia na adolescência, lembra-se de ter sido deixada sozinha por horas com o médico durante o procedimento: “Ele veio por trás de mim, passava a mão em mim. Senti a respiração ofegante [dele] no meu ouvido e começo de gemido, aí ele parou.”
“Chegando lá [sala], ele me colocou ajoelhada, virada para a maca, jogou um lençol e cobriu meu rosto. Escutei o barulho de zíper descendo. O telefone tocou, mas ele continuou na sala. Percebi um barulho de plástico, igual de preservativo abrindo. O telefone voltou a tocar. Ele parou e disse: ‘Fica quietinha que já volto’”, relatou a vítima.
Apesar das acusações e dos relatos contundentes, o advogado de Berchielli negou veementemente todas as alegações feitas contra o médico. O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) confirmou que está investigando o cirurgião, mas ressaltou que ainda não recebeu notificação oficial sobre o mandado de prisão.
A 5ª DDM, por meio da Secretaria da Segurança Pública (SSP), assegurou que continua com diligências para localizar e prender o médico, que se encontra foragido desde o último domingo (29/10). O caso permanece em desenvolvimento, enquanto as vítimas lutam por justiça e o médico enfrenta acusações sérias de abuso sexual e conduta imprópria em seu consultório médico.