No Amapá, 104 pessoas tiveram infecções nos olhos após um mutirão de cirurgias oftalmológicas gratuitas. No total, 141 pessoas foram atendidas durante a ação “Mais Visão”, que ocorre em Macapá desde 2020. Dos pacientes que tiveram infecção, sete sofreram consequências mais graves e tiveram que passar por uma evisceração, cirurgia para remoção do globo ocular, após contrair endoftalmite (infecção no interior do olho).
A empresa Saúde Link, responsável pelos procedimentos do programa, afirmou que os pacientes que tiveram infecções hospitalares foram submetidos a cirurgias na mesma sala, que foi isolada para investigação. Após a identificação dos casos, as atividades do programa foram paralisadas e não têm previsão de volta.
Depois das infecções geradas pelos procedimentos, a empresa afirmou que já atendeu mais de 100 mil pessoas e já realizou “mais de mil dias de operações bem-sucedidas”.
A Secretaria de Saúde do Amapá afirmou que dois pacientes que tiveram complicações foram transferidos para hospitais em São Paulo e outros 68 foram encaminhados ao Pará. A pasta também informou que 55 pacientes encaminhados a hospitais paraenses passaram por vitrectomia, cirurgia para tratar problemas da retina e vítreo de olho, e outras 13 fizeram transplante de córnea.
Os demais pacientes que sofrem com infecções estão sendo tratados em Macapá, no Centro Frei Samarate, e em hospitais particulares, custeados pelo próprio programa.
O governo do Amapá e o Centro de Promoção Humana Frei Daniel de Samatare fazem mutirões de cirurgias desde 2020 e afirmam que estão prestando toda assistência aos pacientes e familiares, oferecendo atendimento médico e psicológico, além dos custeios de tratamento, hospedagem e alimentação.
A família de um dos pacientes que teve infecção após cirurgia, o carpinteiro Antônio Ferreira (82), afirma, no entanto, que ele só recebeu duas cestas básicas e dois vales combustíveis de R$ 50 cada. O idoso teve que passar por remoção do globo ocular e perdeu o olho direito, e agora tem que se deslocar em busca de tratamentos com os próprios recursos.
“Eu não tenho dinheiro para estar indo atrás de tratamento. Meu olho direito era o que eu enxergava melhor. Agora eu não tenho mais o meu olho, foi arrancado. Eu conseguia fazer qualquer coisa antes. Não tinha problema nenhum. Andava pela rua sozinho, ia no mercado. Agora não consigo nem andar sozinho dentro de casa”, afirmou à Folha de S.Paulo.