Selvageria da torcida do Fluminense no Rio não tem nada a ver com “luta antirracista”: é covardia. Por Luan Araújo

Atualizado em 3 de novembro de 2023 às 13:54
Torcedores de Boca Juniores e Fluminense brigaram na tarde desta quinta (2) na praia de Copacabana. Foto: Reprodução.

As cenas de selvageria protagonizadas pela torcida do Fluminense contra torcedores comuns do Boca Juniors depõem muito contra diversos fatores neste fim de semana de final de Copa Libertadores.

Basicamente, as principais torcidas organizadas do Fluminense utilizaram o mote do “racismo argentino” para bater em todo e qualquer torcedor do Boca que encontrasse nas praias cariocas. É patético e hipócrita em várias vertentes. E depõe contra uma pretensa civilidade brasileira.

Particularmente, eu já fui em muitos jogos de futebol pelo Brasil e pelo continente. E os piores lugares onde fui tratado como torcedor visitante de meu clube foram no Brasil. No Rio de Janeiro, inclusive, já sofri episódios bem difíceis nas mãos de torcedores adversários e da despreparada polícia de lá mais de uma vez.

Por isso, é hipócrita dizer que na Argentina brasileiros sofrem. Nos últimos meses fui mais de uma vez a Buenos Aires acompanhar meu time em jogos internacionais. Tirando a hora do jogo, que tem uma tensão natural que existe, tive um tratamento normal como o de qualquer turista. Decididamente, eu não cheguei na Plaza de Mayo ou no Caminito com torcedores dos clubes adversários me ameaçando com uma faca em bonde.

Isso, decididamente, é papo de quem nunca saiu do país e quer fazer arruaça. Seria mais justo falarem que eles não têm nenhum compromisso com ética (ou, na linguagem das torcidas organizadas “ideologia”) e admitirem que só querem brigar e roubar torcedores inocentes dos adversários.

Pois aí entra outro ponto. Os barrabravas do Boca Juniors ainda não chegaram ao Brasil. A “La 12”, barra do time azul e amarelo, é formada por gente com uma ficha corrida de dar inveja a muito bandido grande aqui no Brasil, com destaque para seus dois líderes, Rafael Di Zeo e Mauro Martín. Basicamente, a torcida organizada do Fluminense não está indo para cima de iguais, que é fundamental no código das organizadas. Está indo para cima de gente que não tem relação nenhuma com uma torcida sim, que é perigosa.

Depois, particularmente para mim, entra o aspecto mais hipócrita de todos: a pretensa luta contra o racismo. Sabemos sim, que existe uma epidemia no país vizinho de uma minoria de imbecis que imitam macacos provocando torcedores visitantes de clubes brasileiros. Mas aí, temos dois pontos: é uma minoria e não é algo que é gritado em voz alta nos estádios. Aqui, como lá, o racista não tem a coragem de mostrar sua cara e, quando mostra, é punido, como aconteceu com torcedores do próprio Boca Juniors aqui no Brasil.

Isso se torna ainda mais bizarro quando olhamos o prisma da complexa cadeia de amizades das torcidas no Brasil e na América do Sul. A Young Flu, principal torcida organizada do Fluminense, tem uma amizade umbilical com a Pandilla de Liniers, barrabrava do argentino Vélez Sarsfield, também de Buenos Aires. Entre os cânticos mais famosos da “Pandilla”, aliás, está um que se referem aos torcedores do Boca, os mais populares da Argentina, como um “bando de bolivianos e paraguaios mortos de fome”, num claro tom racista e xenófobo.

Até o fim deste feriado, o Rio de Janeiro deve ter um caos ainda maior, principalmente após a chegada da primeira linha da La 12. Tudo isso motivado por uma ação hipócrita e criminosa de uma parte pequena da torcida do Fluminense, que, decidamente, não sabe onde está se metendo. Ou apenas quer arrumar confusão.

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