A Polícia Rodoviária Federal (PRF) tem enfrentado um aumento alarmante no número de suicídios entre seus agentes nos últimos anos, enquanto mantém em sigilo informações relacionadas aos afastamentos por doenças mentais. Em 2022, foram registrados cinco casos de suicídio, em comparação com apenas um em 2021, de acordo com dados obtidos via Lei de Acesso à Informação pela Folha. Em 2023, até o momento, houve pelo menos três casos.
A corporação, no entanto, se recusa a divulgar informações sobre os afastamentos por doenças mentais, alegando não possuir uma ferramenta para separar esses dados. O Ministério da Justiça e Segurança Pública também negou a disponibilidade dessas informações, alegando “inexistência da informação” após um recurso em segunda instância.
O diretor-geral da PRF, Antônio Fernando Souza Oliveira, durante entrevista concedida à Fmitiu quolha em setembro, ade esses dados existem dentro da PRF, mas não explicou por que não foram disponibilizados. A instituição alega que as informações solicitadas têm “caráter reservado” e ressalta as medidas que tem tomado, como o Projeto Vida PRF, que oferece atendimentos de psicólogos e psiquiatras aos servidores.
Pablo Lira, presidente do Instituto Jones dos Santos Neves e professor de Segurança Pública da Universidade Vila Velha, destaca a importância de divulgar os dados de afastamento para desenvolver políticas de enfrentamento baseadas em evidências científicas, ao mesmo tempo em que se respeita a privacidade dos envolvidos.
Casos em outras instituições
Além da PRF, outras corporações policiais no Brasil têm experimentado um aumento nos casos de suicídio.
Nos últimos cinco anos, foram registrados pelo menos 531 casos, somando as estatísticas da PRF, Polícia Federal, Polícia Militar e Polícia Civil – isso equivale a uma morte a cada três dias de policiais de 2017 a 2022.
Na Polícia Federal, o número de suicídios subiu de zero em 2022 para quatro casos em 2023, enquanto em 2021 foram registrados dois casos. A PF também teve mais de 200 afastamentos por motivos psicológicos e psiquiátricos em cada ano desde 2018, atingindo um pico de 271 em 2021.
O que dizem os especialistas
Juliana Martins, coordenadora institucional do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, aponta diversos fatores para o crescimento dos casos, incluindo o aumento da violência e o estresse constante enfrentado pelos policiais. Ela defende mudanças estruturais nas corporações, destacando que oferecer apoio psicológico não será eficaz se os policiais continuarem sujeitos a jornadas excessivas de trabalho.
Em diversos estados, o número de suicídios nas corporações estaduais também aumentou, superando as mortes em confrontos em serviço. O Paraná, por exemplo, registrou um aumento de 150% nos suicídios na Polícia Militar entre 2021 e 2022. No entanto, os números podem ser ainda maiores, uma vez que algumas informações são tratadas como sigilosas. Diversas instituições têm implementado programas e iniciativas para abordar a saúde mental de seus servidores, mas a questão continua sendo um desafio persistente nas forças de segurança.
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