Existe um tipo de agressor muito comum em nossa sociedade, desde talvez os tempos das nossas bisavós: a figura acima de qualquer suspeita.
O homem aparentemente íntegro e que consegue ganhar a confiança das pessoas com a boa e velha pompa, um cavalheiro, um protetor, um cidadão de bem, enfim.
Já o segundo tipo, o agressor que não faz questão de esconder sua postura violenta e é tacitamente perdoado uma vida inteira pelas pessoas ao seu entorno, e, se for uma pessoa pública, pelo próprio público em geral.
Ana Hickmann é mais uma vítima desse segundo tipo. Seu marido Alexandre Correa abusava da esposa há anos, sob a vista grossa do público e da grande mídia. Tudo documentado nas redes sociais.
Não é novidade que um bolsonarista ataque a própria esposa: oprimir mulheres em diversos graus é uma praxe dos seguidores de Jair Bolsonaro, inclusive com agressões físicas.
Muito machucada, a apresentadora prestou queixa contra o marido. Em seguida, viralizou um vídeo de uma briga do ex-casal, em que o agressor falava em tom de ameaça: “é a última vez que falo com você.”
O comportamento de Alexandre, que socialmente não fazia questão de necessariamente esconder a maneira como via a esposa, certamente contava com a impunidade.
Fato é que, embora quase ninguém esteja prestando atenção, essas mulheres dão sinais.
Sinais de vergonha de denunciar seus parceiros agressores, marcas de agressão física, prejuízos nítidos à saúde mental e comportamento comedido.
Ana já apareceu com machucados pelo corpo e inventou diversas justificativas como queda de cavalo ou acidente doméstico.
➡️ Após a repercussão da denúncia de Ana Hickmann contra seu marido, Alexandre Correa, os detetives da internet foram buscar vídeos que mostram o comportamento por vezes agressivo com a apresentadora
"Eu vou onde eu quero, geringonça de mulher", diz o empresário em um dos vídeos pic.twitter.com/R8B4Bl5smi
— Metrópoles (@Metropoles) November 12, 2023
E ainda há quem diga que, se a mulher “aceita” apanhar, é porque gosta. Isso nunca fez o menor sentido porque ninguém gosta de apanhar – talvez só em momentos muito específicos.
As mulheres agredidas não denunciam por medo de parceiros com discurso ameaçador, co-dependência alimentada pelo próprio agressor, receio (totalmente válido) de serem violentadas novamente pelo poder judiciário, no qual uma juíza ainda tenta obrigar uma criança – como esquecer? – parir de seu estuprador.
Abuso sexual contra mulheres é uma piada no Brasil. Quando há justiça, é depois de muito tempo e de muita comoção social.
O caso do goleiro Bruno, por exemplo, diz muito sobre o assunto. E os tantos casos denunciados sem solução, por mulheres pobres e ricas, amélias ou femmes fatales, não existe exceção ou lugar seguro para nós, porque no próprio casamento (na maioria das vezes) estamos expostas a agressões de todas as ordens.
Que a denúncia de Ana Hickmann sirva para encorajar outras mulheres agredidas, apesar dos tantos percalços.