Parlamentares de esquerda, como André Janones (Avante-MG) e Guilherme Boulos (PSOL-SP), têm sido atacados por encontro com Luciene Barbosa, apontada como esposa de um dos líderes da facção Comando Vermelho (CV). O ministro da Justiça, Flávio Dino, também tem sido associado a ela, mas já negou que tenha participado de qualquer evento que contasse com a presença da mulher.
Bolsonaristas têm usado o caso para atacar os deputados e o ministro. O ex-chefe da Secretaria de Comunicação do governo Bolsonaro, Fábio Wajngarten, é um deles. Ele chama os encontros de “inaceitáveis” e diz que “são todos farinha do mesmo saco”.
Wajngarten se esquece de mencionar, no entanto, que o ex-vice-presidente Hamilton Mourão recebeu a visita de megatraficante de cocaína no Palácio do Planalto em 2019. Na ocasião, ele teve uma audiência com o “empresário” Milton Constantino da Silva, que foi preso meses depois, em novembro de 2020, na operação Enterprise por tráfico internacional de drogas, associação para o tráfico e organização criminosa.
O traficante foi condenado a 11 anos de prisão em 2011 por formação de quadrilha, falsificação de documento público e receptação, mas a pena prescreveu em 2014 e ele ficou sem punição. Constantino foi a Brasília junto de outros quatro reservistas e viajou em avião usado pelo grupo criminoso para transportar cocaína.
A reunião ocorreu fora da agenda oficial do então vice-presidente e, segundo informações publicadas pelos presentes no encontro nas redes sociais, o objetivo era discutir o fortalecimento do patriotismo no país. Apesar da prisão de Constantino só ter ocorrido no ano seguinte, ele tinha uma ficha criminal ampla na data do encontro e já estava sob investigação da Polícia Federal.
Constantino é ex-major da Polícia Militar do mato Grosso e considerado o maior traficante brasileiro em atividade. Ele ganhou o status de “Pablo Escobar Brasileiro” e é apontado pela Polícia Federal como 02 de uma grande quadrilha criminosa.
O episódio não teve tanta repercussão na época em que virou notícia e Mourão não se explicou sobre a reunião. Ao contrário dele, Janones e Boulos esclareceram o encontro que tiveram com Luciene. Dino também se manifestou sobre o tema e deixou claro que nunca recebeu “líder de facção criminosa, ou esposa, ou parente, ou vizinho”.
“De modo absurdo, simplesmente inventam a minha presença em uma audiência que não se realizou em meu gabinete”, afirmou o ministro.