“Dama do Tráfico”: email interno do Estadão sobre “atribuição de crimes” é confissão de culpa canalha

Atualizado em 16 de novembro de 2023 às 17:17
Eurípedes Alcântara

O jornalista Leandro Demori mostrou no X um email da direção do Estadão para os jornalistas “na esteira da péssima repercussão sobre a matéria da ‘Dama do Tráfico’”.

“Atribuir crime a alguém? ‘Só com acesso ao inquérito.’ Eu diria mais: só com acesso à SENTENÇA, posto que o inquérito não é o instrumento para definir se alguém é judicialmente um ‘criminoso’. O e-mail é assinado por David Friedlander, Leonardo Mendes e Euripedes Alcântara. E da porta pra fora, nada será dito? Bem, faço aqui minha parte e torno pública a comunicação”.

Na mensagem à equipe, entregue em meio ao escândalo fabricado para derrubar Flávio Dino, os chefes dizem uma obviedade: “as reportagens do Estadão não podem imputar crimes a pessoas com base na apuração de outros veículos ou simplesmente em off”.

É uma confissão de culpa.

Segundo o MP, Luciane Barbosa, a “Dama do Tráfico do Amazonas” — apelido inventado por um dos autores do “furo” — usou o dinheiro adquirido por seu marido, o “Tio Patinhas”, por meio do tráfico de drogas, para comprar um carro, um apartamento de luxo em Pernambuco e abrir um salão de beleza.

Luciane visitou assessores de Flávio Dino no Ministério da Justiça, verdadeiro alvo das reportagens, e participou de eventos do Ministério dos Direitos Humanos. Foi levada por Janira Rocha, ex-deputada estadual no Rio de Janeiro e vice-presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da ANACRIM (Associação Nacional da Advocacia Criminal).

Ela nunca foi presa, apenas denunciada pelo Ministério Público, e, em seguida, absolvida em primeira instância, por não haver provas suficientes para condenação. O MP recorreu e o processo tramita na segunda instância. O Estadão, no entanto, já julgou e, na prática, matou Luciane como efeito colateral da tentativa de assassinar a reputação de Dino.

Caberia um pedido de desculpas do Estadão, mas isso é para gente grande, e não para um jornal decadente dirigido por Eurípedes, ex-diretor da Veja e comandante do mergulho no esgoto que a revista deu antes de desaparecer.