A visita de Raúl Castro ao Vaticano é a nova vitória do papa Francisco

Atualizado em 11 de maio de 2015 às 15:55
Raúl Castro e o papa
Raúl Castro e o papa

Publicado na BBC Brasil.

 

 

A visita do presidente de Cuba, Raúl Castro, ao Vaticano, a convite do papa Francisco é uma nova vitória pessoal do pontífice.

O fato de o homem que ajudou a liderar a Revolução Cubana ter até brincado sobre retornar à Igreja Católica mostra quanto as relações entre Havana e a Santa Sé avançaram recentemente.

Essa mudança de posicionamento só foi possível, contudo, durante o pontificado de Francisco. Primeiro, o pontífice desempenhou um papel crucial em suavizar o caminho para a retomada das negociações entre Cuba e Estados Unidos nos últimos 18 meses.

Segundo, ele deu a sua benção ao processo e ao governo de Cuba ao se programar para visitar a ilha em setembro antes de sua viagem aos Estados Unidos.

Como um latino-americano, Francisco sempre manteve bons laços com líderes latino-americanos tanto de direita quanto de esquerda. Por várias vezes, ele pediu pelo fim do embargo comercial dos Estados Unidos contra Cuba, por exemplo.

Agora, ele recebeu ─ e cortejou ─ Raúl Castro em Roma, fortalecendo essa relação ainda mais. Mais surpreendente do que isso só se o presidente cubano voltar a frequentar missas.

Mas o jornal estatal Granma omitiu os comentários de Castro sobre voltar à Igreja quando noticiou o encontro, em sua edição eletrônica.

Uma reflexão, talvez, de quão inusitado é para os cubanos ouvir Castro fazer tais comentários, sejam eles irônicos ou não.

 

Encontro

No encontro, ocorrido a portas fechadas no Vaticano, Castro elogiou a sabedoria do pontífice: “Eu vou recomeçar a rezar e voltar à Igreja se o papa continuar por esse caminho”, disse o presidente cubano.

Ele agradeceu ao pontífice por mediar a reaproximação entre Cuba e os Estados Unidos.

Castro viajou ao Vaticano após ter participado das comemorações russas do Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial, na capital Moscou.

No encontro, ficou decidido que Francisco visitará a ilha em setembro, antes de sua viagem oficial aos Estados Unidos.

 

‘Conquista diplomática’

Para o pontífice, a restauração das relações entre Estados Unidos e Cuba ─ realizada em conversas secretas no Vaticano ─ foi uma grande conquista diplomática, informou o correspondente da BBC em Roma, David Willey.

Os Estados Unidos impuseram um embargo comercial à ilha após a Revolução Cubana que só começou a ser suspenso no fim do ano passado, após mais de 50 anos.

O encontro entre Castro e Francisco durou cerca de 50 minutos ao fim do qual o presidente cubano conversou com repórteres.

“O pontífice é um jesuíta, e eu, de certa forma, sou também. Estudei em escolas jesuítas”, disse ele.

Depois de sugerir que voltaria a professar a fé católica, ele acrescentou: “Eu quero dizer o que disse”.

Tanto Castro quanto seu irmão, o ex-líder cubano Fidel Castro, foram batizados como católicos, mas muitas das atividades da Igreja foram suprimidas depois da revolução.

Francisco será o terceiro papa a visitar Cuba, depois de João Paulo 2º, em 1998, e Bento 16, em 2012.