A onça do MBL, sucessora do pato da FIESP, busca fundos para não virar o mico de 2026. Por Ricardo Miranda

O golpista Movimento Brasil Livre faz plástica na logo e no nome, cria o Clube MBL pra arrecadar mais doações e tentar se viabilizar politicamente como oposição ao governo Lula

Atualizado em 22 de novembro de 2023 às 20:57
Símbolo do partido que o MBL pretende fundar. Reprodução

O MBL, Movimento Brasil Livre, defensor do “liberalismo econômico e do republicanismo”, que viveu seu apogeu entre o final de 2014 e 2016, servindo de massa de manobra para os partidos de direita e a notória FIESP, promoveu protestos que contribuíram para o impeachment de Dilma Rousseff. O movimento caminha para a poeira da história, mas não sem antes, usando seu site, arrancar mais uns trocados de liberais. A nova grande empreitada dos integrantes com franja é usar o que lhes resta de seguidores para, com uma nova imagem, concorrer às eleições de 2026, certamente com seu líder, o deputado federal e líder neofascista Kim Kataguiri (União-SP).

A primeira parte marqueteira foi cumprida: com a logomarca de uma onça, o movimento, agora partido, foi rebatizado, em sua mais recente convenção, como “Missão”. Mais coerente seria se o MBL emprestasse o nome “Bandeirantes”, lembrando o Monumento às Bandeiras no Parque Ibirapuera, símbolo da exploração colonial brasileira na cidade, “homenageando” os caçadores de escravos fugitivos e populações indígenas. A estátua de Borba Gato, símbolo da escravidão em São Paulo, foi incendiada há alguns anos por ativistas de um grupo denominado Revolução Periférica.

O que o MBL pretende fazer é o que, em programas de TV sobre plásticas radicais, se chama de “extreme makeover”. Uma reconstrução total na imagem que revela o desespero da turminha formada por Kim Kataguiri e pelo vereador de São Paulo Fernando Holiday – um caso emblemático de negro homossexual que apoia quem discrimina as minorias -, para chegar ao poder, nem que seja usando, quem sabe, um dia, ferramentas de Inteligência Artificial. Formalmente, Holiday não faz mais parte do MBL, mas nunca se distanciou de Kataguiri. De resto, sobram poucos dos “pais-fundadores” do MBL. Atualmente, o padrinho, o que não surpreende em nada, é o senador Sergio Moro (União-PR), que participou do lançamento do projeto e da logomarca no início de novembro e dá a maior força para as mutações do MBL, desde que o rumo seja sempre para longe de Lula.

O partido quer ter um candidato à Presidência na sucessão de Lula, mas, por ora, concentra-se na Prefeitura de São Paulo. Para isso, pretende lançar, com o apoio do PSDB – o partido da hora – e o Novo, uma chapa encabeçada por Kataguiri em 2024. Até lá, é necessário que o tal “Missão” registre 547 mil assinaturas em pelo menos 9 Estados da federação a tempo de fazer o registro junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) antes das eleições. O último partido a conseguir registro junto ao TSE foi a Unidade Popular pelo Socialismo (UP), em 2019. O ex-presidente Jair Bolsonaro tentou viabilizar a criação do Aliança pelo Brasil, uma legenda conservadora e de direita, antes das eleições do ano passado, mas fracassou.

Algumas das principais lideranças deixaram o MBL desde sua criação, como o vereador paulistano Rubinho Nunes (União Brasil). Em assembleias legislativas estaduais, há somente um deputado, Guto Zacarias, em São Paulo. A maior parte dos integrantes do movimento com mandato está hoje filiada ao União Brasil, mas há parlamentares, especialmente vereadores, no PSDB e no Partido Novo. O MBL estima ter 8 mil militantes espalhados pelo Brasil, mas esse é um número “chutado” pra cima.

O deputado Kim Kataguiri vestindo a camiseta “Nem Lula & Nem Bolsonaro”. Reprodução

No site do MBL, recentemente recauchutado para atrair integrantes, incentiva-se o otário da vez a entrar para um certo Clube MBL que custa módicos R$ 360 anuais, que podem ser parcelados. Já na lojinha do MBL é possível comprar desde camisetas até canequinhas do MBL, 69,90, passando por livros (livros?) de Kim Kataguiri autografados. “Manual de debate político” custa R$ 69,00. A camiseta Gentili Presidente (sim, o apresentador de direita Danilo Gentili) custa R$ 69,90. A camiseta “Nem Lula & nem Bolsonaro”, que já não faz sentido no pós-eleições, está em super oferta R$ 19,90. Assim como o Caderno Mamãe Falei, referência ao ex-deputado paulista Arthur do Val, cassado na Alesp por sexismo contra refugiadas ucranianas, que sai agora por R$ 19.90. Até uma certa “Academia MBL” oferece cursos, com matrículas já abertas para 2023, em formação de líderes do MBL, com formação teórica e prática em debates, gestão, liderança, marketing, história e filosofia política. Não dá pra imaginar universidade mais inútil.

Card de divulgação do “Clube MBL”. Reprodução

Kataguiri, Monark e os judeus – Em tempos de massacre de palestinos na Faixa de Gaza, a resposta em forma de chacina da Autoridade Judaica a um ataque do Hamas, provocando um massacre de civis pobres, não custa lembrar como a ignorância, a imbecilidade e o preconceito não têm lados, só adesões de boçais. Em fevereiro do ano passado, Kim Kataguiri e um certo influenciador com nome de bicicleta, Monark – apelido do demente Bruno Aiub -, protagonizaram no podcast Flow uma bizarra tese segundo a qual a defesa do nazismo era um direito à liberdade de expressão – e não um crime. Kataguiri chegou a afirmar que achava errado que a Alemanha tivesse criminalizado o nazismo depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), durante a qual o governo nazista liderado por Adolf Hitler promoveu o extermínio de milhões de judeus e outros grupos. As declarações foram amplamente repudiadas, Monark saiu do Flow, para ganhar dinheiro sozinho em seu próprio podcast, e o deputado Kataguiri, bom, como narrado, segue com seu mandato e seus sonhos cada vez mais mesquinhos e distantes da realidade.

 

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