O sociólogo Marcelo Medeiros, uma das principais referências brasileiras na discussão sobre questões de desigualdade no mundo, afirma que o maior causador da baixa produtividade no Brasil, e consequentemente da desigualdade, é a elite e não o trabalhador. Ele avalia que os problemas econômicos “estão majoritariamente no topo da pirâmide”.
Medeiros é autor do livro “Os ricos e os pobres – O Brasil e a desigualdade”, lançado neste ano, e atua como pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), além de ser professor visitante da Universidade Columbia, em Nova York (EUA).
Na obra, ele defende que “para entender a pobreza, nós devemos olhar para a base da pirâmide social, mas, para entender a desigualdade de renda entre as pessoas, é preciso olhar para o topo, para os ricos”. Segundo ele, a sociedade brasileira é formada por uma massa de baixa renda e uma pequena elite que concentra renda.
“Num país em que 50% da renda está nas mãos de 5% da população, os problemas de produtividade, entre outros, estão majoritariamente no topo da pirâmide. Num país em que aproximadamente dois terços da renda estão nas mãos de 10% da população, a culpa da baixa produtividade é mais da elite”, afirmou em entrevista ao UOL.
Ele aponta que “a produtividade do Brasil aumentaria muito pouco” mesmo se os trabalhadores mais pobres produzissem o dobro do atual. “Estamos falando de produtividade, mas esse problema é só mais um que está concentrado no topo. Tudo na economia brasileira está concentrado no topo. Isso é consequência da enorme desigualdade existente no Brasil”, prossegue.
Ele defende a educação como uma forma de combater as desigualdades, mas não a primária ou secundária e sim o ensino superior. “É a educação de nível superior que faz a maior parte da diferença, porque a educação superior é que faz dar um grande salto de produtividade que se reflete na renda”, aponta.