“Parem o mundo”, escreveu um internauta ontem no Twitter. “O DCM como fonte do CQC? Parem o mundo.”
Também estranhei ao saber que o CQC nos usara no vídeo em que um repórter fez educadamente com um boçal desvairado o que ele fizera selvagemente com um frentista haitiano.
Minha lembrança mais vívida do CQC foi uma abjeta caçada empreendida contra Genoino com a ajuda de uma criança.
Mas então, agora no Facebook, um outro internauta matou a charada. “O careca não está mais lá.”
Pronto. Agora estava tudo esclarecido.
A saída de Marcelo Tas abriu a perspectiva de fazer conteúdo interessante num programa tolo, reacionário e sem público.
O vídeo do doente – seu nome é Daniel Barbosa — é uma prova disso.
Conteúdo bom e surpreendente sempre traz recompensas: a reportagem, feita com autoridade por Juliano Dip, viralizou nas redes sociais. Muitas pessoas se sentiram vingadas. Raras vezes alguma coisa provocou tanta repulsa na internet como o assédio brutal ao indefeso frentista haitiano, chamado — adorei o nome — Flaubert.
Flaubert foi ouvido por Dip. Contou que deixou a mulher e os filhos no Haiti, onde era professor de matemática. Está há cinco meses no Brasil, e fala algumas palavras de português. Um colega frentista — brasileiro — disse que Flaubert é um funcionário exemplar.
Dib pediu desculpas a ele em nome dos brasileiros, num dos melhores momentos da reportagem.
Tirar Tas foi metade do trabalho para dar inteligência ao CQC. A outra metade foi colocar um novo diretor, Dan Stulbach.
Stulbach é um cara arejado, uma boa referência para os jovens espectadores do CQC.
Numa fala no programa, citou seu passado de militância. Falou nas Diretas Já, que acompanhou ainda garoto. Disse que foi cara pintada, o movimento jovem que ajudou a tirar Collor. Sublinhou que acha uma bobagem esta história de volta dos militares.
E mais importante: lembrou ao público que corrupção não é coisa que venha de um lado só.
Só uma cabeça diferente da de Tas poderia conceber o quadro em que foi feito o vídeo do valentão fantasiado de policial.
O quadro se chama Haters, e se propõe a expor gente que espalha ódio. São, quase sempre, perfeitos idiotas, como o que atacou o haitiano.
Alcançado pelo CQC, Barbosa limitou-se a invocar o “Foro de São Paulo”. Estava na cara que ele não sabia nada sobre o Foro, exceto que representava uma terrível ameaça comunista.
Toda a coragem diante do haitiano subitamente desapareceu. Barbosa deu um jeito de correr da entrevista.
Falar no Foro revelou que ele é de alguma forma influenciado por Olavo de Carvalho. OC vem turvando mentes de muita gente sem nenhum preparo intelectual com sua pregação rasa e apocalíptica na qual o socialismo, aqui incluídos PT e PSDB, representa o inferno.
Mexa num idiota que pede intervenção militar e coisas do gênero e você vai encontrar alguém intoxicado pelas imbecilidades de OC.
Parece que enfim há coisa nova e boa na tevê brasileira. Quanto vai durar num ambiente dominado pela estupidez representada por figuras como Danilo Gentili e Rachel Sherezade, aliás exemplos de haters?
Vamos ver como a audiência reage.
Torço para que o público responda bem. Se isso acontecer, vai ser uma ruptura com o lixo direitista que as emissoras de tevê empurram para os espectadores todos os dias e todas as horas.