Um relatório divulgado nesta quinta-feira (4), por democratas da Câmara de Deputados dos Estados Unidos, acusa o ex-presidente Donald Trump de ter recebido pelo menos US$ 7,8 milhões de 20 governos estrangeiros durante sua Presidência.
A China lidera a lista, contribuindo com cerca de US$ 5,6 milhões. O material revela ainda suspeitas de pagamentos feitos pelo Brasil, Rússia, Coreia do Sul e África do Sul, embora a investigação tenha sido prejudicada pela falta de documentos.
O relatório, intitulado “Casa Branca à Venda”, destaca que os pagamentos foram feitos diretamente por governos ou empresas estatais a negócios pertencentes a Trump, como os hotéis Trump em Washington, Nova York e Las Vegas.
A investigação sobre a relação dos negócios de Trump com governos estrangeiros foi iniciada em 2016 pelo Comitê de Supervisão da Câmara, quando o empresário foi eleito presidente. Trump quebrou a tradição ao se negar a desvincular totalmente seus negócios antes de tomar posse.
O deputado Jamie Raskin, responsável pelo relatório, afirmou que a investigação foi dificultada pelos advogados de Trump, que tentaram evitar que a empresa de contabilidade Mazars fornecesse os documentos. Após uma batalha judicial que chegou à Suprema Corte, o ex-presidente foi obrigado a cumprir as intimações do Comitê.
“Em breve ficaria claro que ele via a Presidência como uma oportunidade única na vida para enriquecimento pessoal e maximização de lucro, cortesia de alguns dos governos mais corruptos do mundo”, disse Raskin.
Entretanto, com a troca de comando do Comitê para os republicanos, a Mazars foi liberada de concluir a entrega do material, limitando a conclusão divulgada nesta quinta.
Além da China, outros governos estrangeiros que contribuíram com pagamentos aos negócios de Trump incluem Arábia Saudita, Qatar, Kuwait e Índia. Os democratas alegam que esses negócios violam a proibição constitucional de que presidentes recebam dinheiro de outros países.
A divulgação do relatório coincide com os esforços de republicanos da Câmara para avançar com um processo de impeachment contra o presidente Joe Biden. A oposição alega que Biden se beneficiou de negócios de seu filho, Hunter, com companhias estrangeiras durante o período em que foi vice-presidente.
A cláusula 8 da seção 9 do Artigo 1º da Constituição estadunidense firma que “nenhuma pessoa ocupando qualquer cargo de lucro ou confiança” poderá, sem consentimento do Congresso, “aceitar qualquer presente, emolumento, cargo ou título” seja um “rei, príncipe ou Estado estrangeiro”, algo semelhante ao que acontece no Brasil, que coloca o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como investigado pelo desvio de joias entregues pelo governo da Arábia Saudita
Até agora, o Comitê da Câmara que conduz a investigação não encontrou provas do envolvimento de Biden com as empresas de seu filho. Com Trump e Biden se preparando para uma disputa pela Casa Branca neste ano, o cenário político nos Estados Unidos se torna cada vez mais complexo, envolvendo também os processos criminais contra Trump e decisões judiciais sobre sua participação nas primárias republicanas.