O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) revelou ter recusado a decretação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) durante os ataques aos prédios dos três Poderes em 8 de janeiro de 2023. O motivo, segundo o presidente, foi a decisão de não terceirizar aos militares o comando de uma crise que deveria ser solucionada politicamente.
“Nas conversas que eu tive com o ministro Flávio Dino [da Justiça], […] ele aventou que uma das possibilidades era fazer GLO. E eu disse ao ministro Flávio Dino que não teria. Eu não faria GLO porque quem quiser o poder que dispute as eleições e ganhe, como eu ganhei as eleições”, disse Lula em entrevista à Folha de S.Paulo publicada neste sábado (6).
A avaliação de autoridades naquele dia era que as forças de segurança do Distrito Federal não estavam agindo efetivamente para conter os manifestantes, e havia desconfiança em relação aos militares. Diante da situação, Lula optou por uma intervenção na segurança pública, tomando a decisão em Araraquara, interior de São Paulo, onde estava visitando os estragos causados por chuvas.
O presidente culpou Jair Bolsonaro pelos ataques, chamando os manifestantes de fascistas. Houve temor pela segurança de Lula, e aliados sugeriram que ele não retornasse ao Distrito Federal. “Eu vou para Brasília, vou para o hotel e vou para o Palácio. Eu ganhei as eleições, eu tomei posse. O povo me deu o direito de ser presidente durante quatro anos. Eu não vou fugir à minha responsabilidade”, afirmou.
Lula também destacou que o ato organizado no dia seguinte aos ataques, reunindo chefes dos três Poderes, governadores e representantes dos estados, serviu como uma “fotografia” para a população. “O gesto de todo mundo se encontrar aqui no Palácio do Planalto e depois visitar a Suprema Corte foi um gesto muito forte, que eu acho que é a fotografia que o povo brasileiro vai se lembrar para sempre”.
“Eu acho que o que aconteceu pode ser um processo depurador, de quem vai fortalecer a democracia e de quem queria enfraquecer a democracia”, disse na entrevista.
Na próxima segunda-feira (8), no Senado Federal, haverá uma cerimônia para celebrar a “Democracia Inabalada”, e o evento reunirá chefes dos três Poderes e representantes da sociedade civil para marcar um ano dos ataques. O presidente acredita que a resposta dada e a que será dada podem contribuir para evitar golpes no futuro.