As instituições de defesa da democracia, em especial as do sistema de Justiça, poderiam oferecer aos brasileiros, nesse 8 de janeiro, um gesto de confiança e efetividade.
Um aceno de afirmação das suas prerrogativas e deveres, em meio ao crescimento do sentimento de que os chefes do golpe podem ficar impunes.
Sem espalhafatos, sem ações espetaculosas, mas com firmeza. As instituições poderiam anunciar ao país que nenhum dos líderes do 8 de janeiro ficará impune.
Seria um gesto simbólico e concreto, no sentido de acalmar a aflição dos que acham que o tempo está passando. E o tempo que se estende demais, até a reparação, é sempre, com exceções, o primeiro aliado de qualquer criminoso.
O ato de desagravo organizado por Lula no Congresso começou nessa segunda-feira às 15h, com a participação de representantes dos três poderes e de 500 convidados.
Durante a cerimônia, ou mesmo depois, o Brasil poderia ouvir e ver sinais de que ninguém irá ceder às pressões do fascismo. Um sinal forte, incisivo, assertivo, de que os chefes do golpe não escaparão, como escaparam os chefes e todos os subalternos de 64.
Judiciário, governo e Congresso devem assumir esse compromisso. Alguém pode dizer que esse sinal é dispensável. Não é. Ganha corpo a sensação de que os manezinhos do golpe estão sendo condenados, enquanto não há nada de concreto até hoje contra seus líderes.
Compreende-se que a Procuradoria-Geral da República terá o seu tempo, sob o novo comando de Paulo Gonet, para fazer o que Augusto Aras não fez.
Entende-se que o cerco ao entorno de Bolsonaro está se fechando. Mas também se percebe que não há avanços significativos na direção dos chefes e financiadores do golpe.
Não só dos financiadores de ônibus, bandeiras, banheiros químicos e lanches dos acampamentos na frente dos quartéis.
Estão escapando os grandes financiadores, os empresários com dinheiro que sustentaram a estrutura do gabinete do ódio e apareceram nos processos que poderiam ter levado, mas não levaram, à cassação da chapa Bolsonaro-Mourão no TSE em 2021.
A mais recente pesquisa Genial/Quaest reforça os sinais de preocupação. Hoje, 89% dos entrevistados desaprovam os ataques golpistas do 8 de janeiro.
No levantamento anterior, realizado em fevereiro de 2023, o índice de desaprovação era de 94%. A condenação da invasão de Brasília caiu cinco pontos, mesmo que continue alta.
Na mesma pesquisa, 47% acreditam que Bolsonaro teve algum tipo de influência na organização do 8 de janeiro. E 43% acham que não teve.
Em fevereiro do ano passado, 51% achavam que ele tinha participação na tentativa de golpe, e 38% achavam que não.
Outra conclusão da pesquisa: 51% entendem que os participantes da invasão são radicais e não representam os eleitores de Bolsonaro. Para 37%, eles representam o eleitorado do sujeito.
Não são dados que nos consolam. A rejeição à tentativa de golpe diminuiu. Assim como diminuiu a percepção de que Bolsonaro estaria envolvido.
E, para completar, a maioria dos brasileiros considera que os invasores são radicais, mas sem vínculos com o eleitorado de Bolsonaro.
Esse talvez seja o pior dado da pesquisa, porque separa Bolsonaro e seus eleitores dos manés, patriotas e terroristas que invadiram Brasília.
É o retrato do momento. E o tempo é aliado deles. Que nesse 8 de janeiro as instituições nos digam que ainda é possível chegar ao núcleo do golpe que começa a ser organizado em 2018 e vem até o 8 de janeiro.