Javier Milei, o presidente eleito de extrema direita da Argentina, que tomará posse no dia 10 de dezembro, tem como uma de suas principais propostas a dolarização da economia argentina. Essa mudança implica na substituição do peso argentino pelo dólar americano como a moeda oficial do país.
No contexto atual da Argentina, já é comum a utilização do dólar em algumas esferas, como a possibilidade de se ter contas de poupança em dólar e o uso da moeda como referência para transações, especialmente no mercado imobiliário, onde os preços são cotados em dólares, mas os pagamentos são realizados em pesos. Além disso, muitos argentinos optam por poupar em dólares, guardando-os em contas bancárias ou fisicamente em casa.
Sob o plano de dolarização proposto por Milei, o dólar assumiria o papel de moeda corrente em todas as transações econômicas na Argentina, incluindo o pagamento de salários.
Após 23 anos da dolarização da economia equatoriana, o sistema defendido pelo presidente Daniel Noboa contribuiu para tornar o Equador um paraíso para a lavagem de dinheiro do tráfico transnacional. Milei sabe disso.
Entre Colômbia e Peru, os maiores produtores de coca na região, o Equador passou de um mero ponto de trânsito de drogas para um centro de operações dos cartéis mexicanos, que subcontratam grupos locais.
Segundo o economista Alberto Acosta, cerca de 3% do PIB equatoriano, ou seja, aproximadamente US$ 3,5 bilhões, vêm da lavagem de dinheiro do narcotráfico. Além disso, os ajustes neoliberais adotados pelos governos anteriores e a crescente pobreza criaram um ambiente propício para o aumento do tráfico e da violência relacionada a ele.
“É um fato que a dolarização não impacta muito os preços em uma crise internacional, mas internamente as empresas quebram e o desemprego aumenta. É uma medida que freia a economia equatoriana”, disse Acosta ao Globo.
“Hoje, 5 milhões de pessoas no vivem vivem com apenas US$ 3 por dia, e 2 milhões com menos de US$ 1,70. Essa situação de pobreza e miséria, abre espaço para que muitos acabem se envolvendo com o tráfico”.
O Equador adotou a dolarização no início do milênio como resposta a uma crise econômica grave. Esta mudança ocorreu após o colapso de quatro grandes bancos em 1998, uma época marcada por quatro décadas de inflação elevada.
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Naquele ano, a taxa de câmbio era de 6.825 sucres equatorianos por dólar, disparando para 20.243 sucres por dólar no ano seguinte. Gradualmente, os equatorianos começaram a adotar o dólar americano informalmente, culminando na decisão do presidente Jamil Mahuad, em janeiro de 2000, de dolarizar oficialmente a economia, estabelecendo a taxa de 25 mil sucres por dólar.
Inicialmente, a dolarização resultou em perdas significativas para muitas famílias equatorianas, levando-as a uma situação de empobrecimento. No entanto, a partir de 2003, impulsionada pelo boom das commodities, a inflação começou a cair e se estabilizou, mantendo-se assim até pelo menos 2015.
Durante esse período, a dolarização tornou-se um tema intocável na política equatoriana, com nenhum político se atrevendo a questionar sua eficácia. Mesmo o ex-presidente Rafael Correa, um economista crítico da medida, que a considerava “o maior absurdo técnico-econômico cometido no país”, não alterou a política monetária durante seus dez anos de mandato, de 2007 a 2017.
La dolarización favorece al narcotrafico. La palabra del presidente de #Ecuador pic.twitter.com/1g56PQBii1
— Luis Bremer (@luisbremer) January 10, 2024
A situação de segurança no Equador deteriorou-se drasticamente nos últimos dias após a fuga de Adolfo Macías, conhecido como “Fito”, líder da facção criminosa Los Choneros, da prisão.
Isso resultou em uma onda de violência relacionada às drogas, deixando pelo menos dez pessoas mortas e várias cidades em pânico com atos de terrorismo, como incêndios de carros e explosões em passarelas de pedestres em pelo menos 10 cidades do país.
A onda de violência levou o presidente Daniel Noboa a declarar um “conflito armado interno” e a enviar as forças armadas para as ruas. Além disso, foram registrados ataques no porto de Guayaquil, assassinatos de policiais em Nobol, e uma invasão dramática de uma estação de televisão em Guayaquil por homens armados e encapuzados.
A situação preocupante levou a medidas extremas, como o fechamento antecipado de lojas, alteração das aulas para o formato online e expressões de apoio internacional a Quito. Além disso, o Peru declarou estado de emergência ao longo de sua fronteira com o Equador e intensificou a vigilância.