Um amigo ligado ao PSDB desde sua fundação analisou o fenômeno Russomano. Por razões óbvias, ele, que é assessor de um político paulistano em campanha, preferiu não ser identificado. Na última pesquisa do Datafolha, Russomano estava com 35% das intenções de voto para prefeito de São Paulo, com 14 pontos sobre Serra e 19 sobre o petista Haddad. Nas projeções do segundo turno, a vantagem do candidato do PRB sobre os dois concorrentes seria ainda maior: 58 a 30, contra o primeiro, e 56 a 30 contra o segundo.
“A militância do PSDB não aceita mais o Careca”, diz ele. “É uma situação de desânimo e resignação”. Russomano, um populista típico, com carreira na TV, ganhou o apoio valioso da Igreja Universal e de outras agremiações evangélicas. “O pastor pede para o cara votar e o cara vota. As igrejas estão demonstrando que a força delas não se limita mais ao legislativo, a eleger vereadores e deputados. Ela está ocupando o espaço deixado pelos partidos. Em política, não existe vácuo”. A estratégia do PRB de “infiltrar” militantes nos ônibus para convencer os eleitores, criticada por Serra em sua propaganda eleitoral gratuita, tem se mostrado vencedora. “Não tem novidade nenhuma aí, na verdade. O Jânio fazia a mesma coisa. O problema é que só os adeptos do Russumano estão fazendo isso”.
Russomano pegou a todos de surpresa. “O PSDB perdeu o pé do que está acontecendo no mundo. Sempre foi um partido de ideias, de intelectuais. Mas agora, como a agenda que o PSDB defendia está sendo posta em xeque, não sobram propostas claras. A privatização, por exemplo, não rende e nem tira votos. Até a Dilma é a favor”. Em sua avaliação, a administração Kassab na prefeitura, também responsável pela queda de Serra por causa do alto índice de rejeição, não é ruim, mas sofre de falta de marketing para propagar as boas realizações. “Kassab organizou aquela bagunça que era a represa de Guarapiranga e acabou com as escolas de lata da Marta, por exemplo. Mas ele não conversa com o povo. Além disso, colocou coronéis da PM aposentados nas subprefeituras. São pessoas acomodadas, que não fazem questão de fazer política, de ter contato real com gente”. Ele prossegue. “Pelo fato de o PSDB ser governo em São Paulo há muito tempo, houve uma acomodação”, afirma. “O Covas não era assim. Ele batia boca com professoras no palácio, ia à luta. O Montoro também. Isso acabou.” O que sobrou para Serra é desmentir que não completará o mandato, algo que colou na imagem dele. “Como falam os americanos, é muito pouco, tarde demais”.