Alyssa Veiga, aos 28 anos, compartilha sua história de ter nascido e crescido na seita “A Família”. Seus pais, influenciados pelo movimento, uniram-se ao grupo quando tinham apenas 17 e 18 anos. O ambiente hippie e musical da seita, fundada por David Berg em 1968, marcou a infância de Alyssa entre estadas no México e no Rio de Janeiro.
A “Família”, antes conhecida como “Os Meninos de Deus”, proporcionou uma infância isolada para Alyssa, que só ingressou na escola aos 14 anos. Somente décadas depois, ela compreendeu a extensão da violência à qual foi submetida. Andressa e Priscila Zgoda, agora com 32 e 29 anos, respectivamente, também compartilham histórias semelhantes de abuso na seita.
Promessa de santidade e conexão com Deus
Os pais das irmãs Zgoda viram na seita uma oportunidade de conexão com Deus em um contexto “meio hippie, muito cristão”. A Família Internacional, como é conhecida hoje, buscava uma “revolução espiritual antes do apocalipse” associando Deus a práticas sexuais.
“Acreditaram em toda aquela promessa de vida envolvendo santidade sem um método tradicional. Até hoje eles não chamam de seita”, disse Priscila.
Abusos e rigidez na rotina
Alyssa, Andressa e Priscila compartilham experiências de uma rotina rigorosa, ideologias extremas, e proibições, incluindo vacinas, cuidados médicos e a imposição do inglês como idioma predominante. A prática de “flirty fishing” (pesca sedutora) era incentivada para angariar fundos.
A hipersexualização também era comum na seita, com relações sexuais sendo usadas para “expressar devoção a Deus”. A falta de consentimento e a repressão a questionamentos perpetuavam um ambiente abusivo.
“Morávamos em mansões, e alguém conseguia desconto no aluguel flertando com o proprietário. Quando fiquei mais velha, com uns 12 anos, o discurso era: ‘Você precisa dar a alma para isso. Tem de flertar com os homens para ganhar almas para Cristo. Tem de sorrir, fingir que está apaixonada'”, disse Andressa Zgoda.
“Todo mundo foi vítima de pedofilia. Não consigo nem contar quantas vezes foram, porque era no cotidiano, na nossa casa. Os adultos saíam do banho e deixavam a toalha cair no chão. Os mais velhos agarravam, passavam a mão, faziam piadas. Aos 7 anos, ouvia comentários como ‘você vai crescer e ficar gostosa’. Mas tinha de ser educada. Todas as adolescentes que eu conheci, sem exceção, foram abusadas”, relatou Alyssa.
Superando o silêncio
As três mulheres, agora adultas e fora do isolamento, conseguem identificar os abusos sofridos, incluindo estupro de vulnerável. Ao compartilhar suas histórias, buscam conscientizar sobre os perigos de grupos similares e superar um passado marcado por violência e manipulação.
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