A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, afirmou que as tragédias que estão ocorrendo com o Rio de Janeiro por conta das chuvas nos últimos dias são consequência do “racismo ambiental” e gerou debate nas redes. Os temporais causaram ao menos 11 mortes só na Zona Norte da capital e na Baixada Fluminense, além de uma pessoa desaparecida e dos danos a imóveis.
“Estou acompanhando os efeitos da chuva de ontem nos municípios do Rio e o estado de alerta com as iminentes tragédias, fruto também dos efeitos do racismo ambiental e climático”, afirmou a ministra pelo X (ex-Twitter).
Estou acompanhando os efeitos da chuva de ontem nos municípios do Rio e o estado de alerta com as iminentes tragédias, fruto também dos efeitos do racismo ambiental e climático.
Algumas prefeituras do estado já estão mobilizadas.
— Anielle Franco (@aniellefranco) January 14, 2024
Apesar das críticas ao uso do termo, ele está correto: “racismo ambiental” é um conceito usado para descrever o processo discriminatório enfrentado por populações periféricas ou compostas por minorias étnicas devido à degradação ambiental.
A expressão destaca que os impactos ambientais não são distribuídos de maneira igualitária, com a parcela historicamente marginalizada sendo a mais prejudicada pela poluição e degradação ambiental.
Marcos Bernardino de Carvalho, professor de Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, em entrevista à rádio da universidade, explica o conceito.
Segundo o professor, a origem do termo está ligada ao movimento dos direitos civis nos Estados Unidos nas décadas de 50 e 60, sendo creditado ao ativista afro-americano Benjamin Franklin Chavis Jr., secretário de Martin Luther King Jr, que denunciou que a população mais vulnerável, especialmente a negra, era a mais impactada pela degradação ambiental.
Atualmente, exemplos de racismo ambiental incluem a falta de investimento em regiões sem saneamento básico, o despejo de resíduos prejudiciais em áreas socialmente vulneráveis e a exploração de terras pertencentes a comunidades locais.
Apesar de denunciar violações de direitos, o termo enfrenta resistência devido às implicações sociais e históricas. No Brasil, a população negra é especialmente afetada, resultado de estruturas sociais coloniais que não proporcionaram reparação pelos danos da escravidão.
O professor destaca que o crescimento de comunidades periféricas evidencia essa discriminação, ressaltando que o racismo ambiental não é apenas resultado de injustiças sociais, mas também desempenha um papel ativo em sua perpetuação.
A falta de políticas públicas que combatam essa forma de discriminação contribui para a manutenção desse cenário, evidenciando a desigualdade econômica e política. O acesso limitado a serviços básicos, como saneamento, aprofunda o abismo social, consolidando uma situação de desigualdade e discriminação.