Os organizadores da Consciência Cristã, um dos congressos mais relevantes no cenário evangélico no Brasil, anunciaram a presença do pastor estadunidense Douglas Wilson, conhecido por suas posições em defesa da escravidão. O evento, que ocorrerá em Campina Grande (PB), durante o Carnaval, reúnirá lideranças calvinistas.
A Consciência Cristã é organizada pela Visão Nacional para a Consciência Cristã, uma associação conservadora liderada por diversas igrejas evangélicas. Entre os participantes frequentes estão figuras da direita evangélica calvinista, como os pastores Augustus Nicodemus e Franklin Ferreira.
No entanto, o convidado Wilson é conhecido por buscar “tirar o estigma” do sistema escravista do sul dos Estados Unidos, argumentando que, se baseado em princípios bíblicos, teria sido bem-sucedido.
Segundo o The Intecept, Douglas Wilson faz parte de uma geração de teólogos ultraconservadores que resgataram e atualizaram o pensamento do pastor calvinista Robert L. Dabney. Esse movimento, surgido nos anos 1960, rejeitou os avanços do movimento pelos direitos civis nos EUA.
Dabney via os negros como moralmente inferiores, e suas ideias foram retomadas por teólogos como Rousas Rushdoony, cujo livro “Institutes of Biblical Law” serviu de base para a justificação teológica de uma sociedade com classes distintas.
Wilson, alinhado a esse movimento, é um defensor público da justificação bíblica para a escravidão. Ele argumenta que, se o sistema escravista do Sul tivesse seguido princípios bíblicos, teria funcionado harmoniosamente.
Contrariando vasta documentação histórica, Wilson sugere que os escravizados tinham uma dieta superior e minimiza os maus tratos, afirmando que eram raros. Além disso, ele se identifica com o nacionalismo cristão, apoiando figuras como Donald Trump.
O nacionalismo cristão, defendido pelo pastor, é visto por muitos como uma ameaça à democracia. Essa ideologia fundamentalista mistura radicalismo cristão com movimentos de supremacia branca e saudosismo do Sul confederado escravista.
Em 2017, quando movimentos de extrema direita organizaram uma passeata de “orgulho confederado”, Trump se recusou a reprovar o que seria uma marcha de supremacistas brancos, afirmando que “havia culpados dos dois lados”. Na ocasião, Wilson publicou uma carta “Em louvor ao nosso presidente”, afirmando que iguala “o movimento Black Lives Matter à Ku Klux Klan”.