A primeira coisa que Wanessa Camargo provou no BBB24 é que os ricos não sabem disfarçar sua própria sordidez.
Ela lançou, recentemente, uma fala problemática, para dizer o mínimo, sobre desigualdade social (porque, sim, seja lá o que ela tenha querido dizer, trata-se claramente de uma fala sobre a desigualdade social).
“É mais doloroso pra pessoa que tá acostumada todo dia comer filé mignon e ter que começar a comer presunto do que um que sempre comeu presunto e não sabe o que é filé mignon”, falou.
O “desabafo”, banhado em ódio de classes, foi manchete hoje, sobretudo nas redes sociais.
O discurso da cantora reflete uma vibe tipo “pobres dos ricos”, que a elite insiste em querer nos empurrar goela abaixo. Uma burguesinha que, embora sem talento, nasceu em berço de ouro e sempre teve tudo que quis, na hora que quis.
Filha do cantor Zezé di Camargo, apoiador de Bolsonaro, Wanessa não poderia ter construído um discurso diferente deste que ela não conseguiu conter e falou em rede nacional. Quem sabe se trate de uma bolsonarista enrustida, mais discreta que o pai, mas não menos classista.
Imagine o espanto da pobre mocinha rica ao saber que tem gente que não tem nem o presunto. Gente que cata lixo pra sobreviver, gente subnutrida que vive a base de feijão e farinha, gente que talvez nunca tenha comido presunto, gente meio Chaves, o icônico personagem que, sabemos, era um mendigo que dormia em um barril e sonhava com um sanduíche de presunto.
Tem gente, Wanessa, que não tem nem o básico, imagina presunto.
Filé mignon? “Nunca vi nem comi, eu só ouço falar”.
O descolamento da realidade que essa fala prova é tão óbvio que revela um ódio de classes ressentido, uma culpa cristã e burguesa disfarçada de desabafo ou opinião.
Calma, amigas, compreendemos que muita gente simpatiza com Wanessa no BBB (e com sua amiga inseparável Yasmin Brunet), mas é preciso dizer o que sua fala revela: ricos não podem ver diminuído o seu padrão de vida, mas pobre tem mais é que comer presunto. Tá acostumado. Não sabe o que é filé mignon, mesmo.
A classe que tudo produz não merece a suculência de um filé mignon. E o rico do filé mignon não pode comer presunto sem se sentir torturado.
Parece muito com o discurso dos bolsonaristas quando Wagner Moura comeu camarão. Atacado por um camarão, coitado. Como esquecer? Até o presidente Lula precisou vir a público pra dizer que pobre também pode – e deve – comer camarão, e o raciocínio deve ser similar quanto ao filé mignon.
Então, desculpem, (pequenos) burgueses, mas a essa altura preciso falar: pessoas ricas são, de fato, podres.
Primeiro: não aceitam que os pobres comam filé mignon, e desejam que esses pobres continuem a não saber nem o que é. Segundo: defendem os próprios privilégios com unhas e dentes, de forma que não sobre espaço para o mínimo de dignidade.
Coitada da burguesinha que ficou na xepa e teve que comer presunto. Muito duro não ter um filé mignon pra chamar de seu, né, minha filha?
A fala de Wanessa Camargo é um retrato grotesco da burguesia: filé mignon pra mim, presunto (ou nada) para os outros.
Veja o vídeo:
que barra! wanessa: “é mais doloroso pra pessoa que tá acostumada todo dia a comer filé mignon ter que começar a comer presunto do que um que sempre comeu presunto e não sabe oq é o filé mignon” #bbb24 pic.twitter.com/KtvQV2ICWB
— PAIVA (@paiva) January 17, 2024