Hospital São Camilo (SP) se recusa a inserir DIU por questões religiosas, denuncia paciente

Atualizado em 23 de janeiro de 2024 às 23:27
Fachada do Hospital São Camilo, em São Paulo
Hospital São Camilo, em São Paulo – Divulgação

Durante uma conversa com a médica no Hospital São Camilo, em São Paulo, a comunicadora Leonor Macedo, 41, foi surpreendida ao ser informada que o procedimento de inserção do DIU (dispositivo intrauterino) não seria realizado na instituição devido a valores religiosos. O caso ganhou destaque nas redes sociais após o relato de Macedo, levando o hospital a esclarecer publicamente sua posição.

A instituição afirmou, em resposta nas redes sociais, que, seguindo diretriz institucional, o hospital não realiza procedimentos contraceptivos, tanto em homens quanto em mulheres. Em casos assim, o hospital orienta os pacientes a buscar a rede referenciada de seus planos de saúde para encontrar locais que ofereçam esses procedimentos.

Leonor, após o relato viralizar, foi contatada pela instituição, que esclareceu que a recusa não se trata de uma questão de gênero, pois homens que buscam o hospital para vasectomia também não são atendidos. O hospital autoriza a inserção do DIU apenas em casos graves de saúde, como endometriose.

“O Hospital São Camilo me ligou pra explicar que não fazem procedimentos como DIU e vasectomia, que só colocam o DIU no caso de endometriose grave, mas não como método contraceptivo. Explicou que é uma instituição religiosa e que segue os preceitos da Igreja Católica e do Vaticano”, publicou ela.

“Foi uma conversa respeitosa, mas expliquei que vou denunciar e que vou responder aos jornalistas que estão me procurando pra fazer matéria porque é uma maneira muito antiga de pensar e que só com a indignação coletiva e com a denúncia é que as coisas avançam”.

O hospital, em nota à Folha de S.Paulo, reafirmou sua posição confessional católica e destacou que procedimentos contraceptivos são realizados apenas em casos que envolvam riscos à manutenção da vida. Pacientes sem riscos à saúde são orientados a buscar hospitais na rede referenciada de seus planos de saúde.

Após o relato nas redes sociais, Macedo enfrentou críticas, evidenciando a hostilidade que dificulta que outras mulheres compartilhem suas experiências nos consultórios.

O advogado Henderson Fürst, presidente da Comissão de Bioética da OAB-SP, considera a determinação do hospital inconstitucional, violando direitos humanos e a liberdade dos profissionais de medicina. Ele destaca que a orientação vai contra o Código de Ética Médica, que preconiza a autonomia do médico e a proposição do melhor tratamento disponível, incluindo o direito ao planejamento familiar.

“É um absurdo esse cerceamento que se faz a direitos de pacientes e da atuação dos profissionais de saúde”, afirmou.

O DIU, dispositivo contraceptivo de longa duração, é discutido pela pesquisadora da UFMG, Fatima Marinho. Ela destaca a importância do acesso aos métodos contraceptivos para o planejamento familiar e ressalta que negar esses métodos é um retrocesso.

Marinho esclarece que o DIU não é abortivo, mas há desinformação e mitos sobre seu uso. Ela aponta a influência de motivos religiosos na escolha de métodos contraceptivos e destaca que governos têm desenvolvido políticas de saúde para promover o planejamento familiar.

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