A China transparece na atualidade tal como o mito da antiga Grécia sobre a Esfinge de Tebas a questionar os viajantes que ao observá-la eram colocados diante do ultimato de esclarecer ou padecer na insignificância.
Por má fé ou ignorância mesmo, a China tem sido muito mal compreendida no Ocidente. Por mais de duas décadas se acumulam considerações de “analistas” do Norte Global e repetidos aos quatro ventos sobre um certo país asiático sempre a beira do precipício, com sua economia na eminência de crise, bancos endividados, falsidade estatística e tudo mais.
A divulgação da taxa nacional de desemprego juvenil (16 a 24 anos) para o mês de dezembro de 2023 (14,9%), bem abaixo da divulgada em junho do mesmo ano (22,3%), ocasionou alvoroço no Ocidente, alimentando o jornalismo opinativo e porta vozes do capital a emitir aleivosias “à toa, às cegas, em excesso demais”.
Diante das gigantescas transformações econômicas e sociais que o transatlântico chinês tem passado, o trabalho estatístico tem sido exposto continuamente às exigências de aperfeiçoamento e melhora na retratação da realidade em mudanças.
Este parece ser o caso da alteração ocorrida na taxa de desemprego, pois todo estudante universitário sem trabalho e sem procura por trabalho seria considerado desempregado. Como a China tem se esforçado na modernização de sua força de trabalho, o investimento intensivo e direto na expansão universitária desde o início do século 21 produziu resultados significativos.
Neste primeiro quarto de século 21, por exemplo, a China passou de 1 milhão de graduandos por ano (6% da faixa etária própria ao ensino superior) para 11,6 milhões (63% da faixa etária) em 2023, o que significa um a cada quatro trabalhadores com diploma de ensino superior (fotos 1 e 2).
Para o ano de 2050, a presença de graduados universitários na força de trabalho da China deverá suceder a 70%. Uma indicação de como a mão de obra daquele país transita para postos superiores, em geral de “colarinho branco”, próprios do salto desenvolvimentista que ocorre em plena Era Digital.
Destaca-se, ainda, que mais de 40% dos graduados universitários da China são especialistas nas áreas de Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemática (SMET em inglês). Se comparado com países do Norte Global, nota-se o disparate em relação aos EUA com só 18% do total dos estudantes de ensino superior nas áreas STEM, 35% na Alemanha e 26% no conjunto dos países da OCDE.
Tudo isso contribuiu para retirar do mercado de trabalho e de formação familiar até a formatura, uma parcela significativa e crescente dos jovens chineses, mas que continuavam a ser contabilizados como desempregados, mesmo sem estarem procurando mais por trabalho.
Nos últimos seis anos, por exemplo, o salto na elevação das matrículas universitárias foi acompanhado do declínio da quantidade de jovens chineses empregáveis e sem frequência escolar de 65% para 37% (queda de 43% na faixa etária de 16 a 24 anos).
Mas como a demografia é simultaneamente o destino e o futuro da realidade populacional de um país, a combinação entre a rápida elevação nas matrículas universitárias e a drástica queda na taxa de natalidade (gráficos 3 e 4) simplesmente elevou de cerca de 10% para mais de 20%, a taxa de desemprego da juventude chinesa.
O procedimento estatístico procedido pelo Instituto Nacional de Estatísticas da China, voltado à atualização da taxa de desemprego, considerou os jovens matriculados no ensino superior e sem demanda imediata por trabalho.
De toda forma, um fato controverso e de fundamental importância para todos que se preocupam em compreender melhor a realidade resultante da passagem das sociedades para a nova de Era Digital.
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