Grandes potências cortam ajuda à Palestina a mando de Israel. Por Giancarlo Summa

Atualizado em 28 de janeiro de 2024 às 17:41
Grandes potências cortam ajuda à Palestina a mando de Israel. Foto: Divulgação

Por Giancarlo Summa

Estou profundamente indignado. A decisão de EUA, União Europeia, Canada, Itália,. etc de cortar os financiamentos da UNRWA – a agência da ONU que cuida dos seis milhões de refugiados palestinos descendentes dos que foram expulsos de suas terras na nakba de 1948 – significa, literalmente, a condenação à morte para dezenas de milhares de palestinos.

A UNRWA provê serviços de saúde, educação, distribuição de alimentos e dinheiro em Gaza, na Cisjordânia e nos países da região. Milhões de palestinos dependem disso para viver, se curar, etc.

Israel e a direita dos EUA querem há anos a pele da UNRWA, como parte da “solução” da questão palestina. Acuados pela decisão da Corte Internacional de Justiça sobre a prevenção do genocídio em Gaza, por iniciativa da África do Sul, Israel reagiu acusando uma dúzia de funcionários palestinos da UNRWA em Gaza de ter colaborado com os ataques de Hamas em 7 de outubro.

A UNRWA tem mais de 12mil funcionários palestinos em Gaza. A vida da população depende deles. Durante os ataques dos últimos meses, Israel matou mais de 150 funcionários da UNRWA e destruiu dezenas de escolas e postos de saúde da ONU.

Os financiamentos da UNRWA são todos voluntários, a cada ano precisa passar o chapéu. A decisão dos EUA e de seus aliados ocidentais é moralmente repugnante. O Brasil tem um papel real para jogar, se o Itamaraty e o Planalto acordarem.

Sede da UNRWA. Foto: Divulgação

No fim do governo Lula II e no Dilma I, o Brasil deu uma contribuição significativa para a UNRWA (no total, mais de 12 milhões de dólares, entre alimentos – principalmente arroz – e dinheiro). Desta forma, o Brasil conseguiu também o direito de integrar a Comissão Consultiva da UNRWA (Advisory Commission), sendo o primeiro (e até agora, único) país latino-americano a entrar no organismo. A Comissão tem hoje 29 membros e quatro observadores.

Depois do golpe de 2016 e com o governo Temer, a participação do Brasil virou simbólica: em 2022, o País contribuiu com apenas 75mil dólares ao orçamento da UNRWA (no total, 750 milhões de dólares).

Da América Latina, o México contribuiu com 750 mil e o Chile com 12 500. Os primeiros três financiadores da UNRWA são os Estados Unidos (222 milhões de dólares), União Europeia (100 milhões) e Suécia (56 milhões). Trump mandou cortar o financiamento dos EUA à UNRA, que foi reestabelecido pela administração Biden, que voltou a ser cortado agora. Todos os membros originais dos BRICS contribuem para a UNRWA.

Contribuição dos BRICS para orçamento da UNRWA em 2022:

Brasil $ 75.000
Rússia $ 2.000.000
Índia $ 5.000.000
China $1.000.000
África do Sul $171.600
Total $8.246.600

Em 2010, fui eu quem favoreceu a aproximação do Brasil com a UNRWA, quando eu era diretor do Centro de Informação da ONU no Brasil e o Comissário Geral da UNRWA era Filippo Grandi, atual chefe do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR).

Marco Aurélio Garcia apoiou muito o projeto também no governo Dilma. Quem mais colaborou comigo no Itamaraty para fazer andar o projeto foi o Milton Rondó – diplomata que foi forçado a se aposentar após o golpe de 2016, e a quem o governo Lula III não ofereceu qualquer reparação.

O Brasil deveria levantar nos BRICS e no Global South o tema de salvar a UNRWA. Os países do Sul deveriam imediatamente colocar a disposição fundos contra a decisão neo-colonial dos EUA e de seus vassalos ocidentais.

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