Alvo de uma nova onda de acusações da extrema-direita, o padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo, foi às redes sociais dizer que recebe “com serenidade e paz de espírito” a informação de que a Arquidiocese de São Paulo não arquivou as investigações após denúncias de vereadores da capital paulista sobre suposto abuso sexual, e voltou a afirmar que as acusações são falsas.
Uma nota sobre o andamento das investigações foi publicada pela Arquidiocese na segunda-feira (5), cerca de duas semanas depois que a própria entidade divulgou outro comunicado oficial dizendo que os vídeos que tinha recebido da Câmara eram os mesmos que já tinham sido investigados pela Cúria Metropolitana em 2020. Na ocasião, a investigação foi arquivada.
A Arquidiocese disse que decidiu publicar a nova nota “diante das interpretações equivocadas e amplamente divulgadas na opinião pública” sobre o texto de 23 de janeiro, e afirmou que foi aberto novo procedimento investigativo devido à “recente divulgação de laudos periciais com resultados contraditórios e a notícia de um suposto fato novo de abuso sexual envolvendo o referido sacerdote”.
Ao tomar conhecimento do posicionamento da Arquidiocese, o padre reiterou que “as imputações surgidas recentemente – assim como aquelas que sobreviveram no passado – são completamente falsas, inverídicas”, e disse que tem “plena fé de que as apurações conduzidas pela Arquidiocese esclarecerão a verdade dos fatos”.
“As acusações estão imbricadas em uma rede de desinformação, que mascara eventuais interesses de setores do poder político e econômico em ceifar aquilo que é o sentido do meu sacerdócio: a luta pelos desamparados e pelo povo de rua. Sigo, de maneira inabalada, a esperança de um futuro que extirpe o ódio aos pobres das nossas ruas e dos nossos corações”, complementou o padre em nota postada em sua página no Instagram.
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Assim como em outros momentos em que foi alvo de ataques da extrema-direita, o pároco recebeu apoio de milhares de pessoas de diversas partes do país, entre elas os parlamentares Guilherme Boulos e Sâmia Bomfim, ambos deputados federais pelo PSOL-SP.
Relembre o caso
Em janeiro, o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, o vereador Milton Leite (União Brasil), enviou à Arquidiocese um vídeo de cunho sexual, sem autenticidade comprovada, relacionando-o ao padre Julio Lancellotti. O vídeo circulou pelas redes sociais em meio à tentativa de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o trabalho de lideranças que atuam em prol da população de rua, especialmente o padre.
A proposta de CPI foi articulada pelo vereador Rubinho Nunes (União Brasil), vinculado ao “Movimento Brasil Livre” (MBL). Nunes alega que o padre faria parte de uma “máfia da miséria” no centro de São Paulo. Diante de uma grande repercussão negativa, muitos vereadores manifestaram recuo e desistência no apoio à CPI.
Publicado originalmente no “Brasil de Fato”