Está sobrando ódio no debate político brasileiro.
E, consequentemente, está faltando humor.
Por isso, é mais que bem-vinda a resposta que Lula deu ao jornalista Carlos Alberto Sardenberg a propósito de uma análise dele que atribuía a culpa da encrenca grega ao PT.
Sardenberg fez uma bizarra conexão entre encontros entre o premiê grego Tsipras com Lula e Dilma, algum tempo atrás.
Tsipras teria sido induzido a acreditar que você pode enfrentar uma crise econômica sem ajuste fiscal. Daí, segundo Sardenberg, a tormenta grega e europeia.
Lula, em sua conta no Facebook, colocou uma montagem em que Sardenberg aparece culpando o PT por coisas como o frio, além, é claro, da crise grega.
A foto é brincadeira, disse Lula, mas a análise é real.
Espirituosamente, Lula lembrou os múltiplos microfones dados pela Globo a Sardenberg: Globonews, CBN, jornal O Globo etc etc.
É assim com quem, como Sardenberg, poderiam ter um cartão escrito assim. Profissão: atacar o PT.
Porque isso virou a melhor forma de fazer carreira na imprensa desde a ascensão de Lula: atacar o PT.
Jornalistas de trajetória mediana até o PT chegar ao Planalto cresceram brutalmente ao entender a demanda dos donos das empresas jornalísticas e oferecer seus serviços.
Sardenberg é um caso. Reinaldo Azevedo, outro. Diogo Mainardi, mais um. Até Augusto Nunes ressuscitou ao topar agredir sistematicamente Lula.
Aqui, um parêntese. Augusto consegue fazer piada com o apelido Brahma – ele que se gabava de ter conquistado o cargo de chefe de redação do Estadão ao derrotar, em mesas de bar, os Mesquitas em duelos para ver quem aguentava encher mais a cara.
Considerada a tradição dos Mesquitas neste quesito, você pode imaginar quanto Augusto era bom em beber. (Nos anos 1980, quando trabalhávamos ambos na Veja, tomei na companhia de Augusto e outros grandes fogos pós-fechamento no bar do Alemão, perto da redação. Eu até que era bom para beber, mas Augusto era simplesmente imbatível.)
Eis algo, aliás, comuníssimo entre jornalistas, o que não inibe ninguém de usar o apelido Brahma para tentar desmoralizar Lula entre leitores preconceituosos e moralistas.
Sardenberg não precisou de Lula para virar piada.
Antes que Lula se manifestasse, sua análise já viralizara nas redes sociais e provocara uma mistura de gargalhadas e desprezo.
Com graça, Lula lembrou que Nobéis de Economia como Krugman defendem a estratégia de Tsipras.
Piketty, o célebre economista francês que escreveu O Capital no Século 21, um formidável tratado sobre a desigualdade – um assunto ignorado por Sardenberg e congêneres –, também.
Piketty lembrou que jamais a Alemanha pagou suas dívidas externas. Depois da Segunda Guerra, no início da década de 50, a Alemanha simplesmente não pagou o que devia aos credores internacionais por conta dos estragos nazistas.
Mas nada disso conta para Sardenberg.
Pobres ouvintes, ou espectadores, ou leitores de Sardenberg. Vão depois reproduzir as tolices que engoliram.
Talvez um dia, se despertarem, fiquem com raiva de quem os leva a um mundo paralelo.
Mas torço que, caso acordem, reajam como Lula: com bom humor.
Basta deixar de ler, ouvir e ver Globo, Globonews, Veja, CBN, Jovem Pan e por aí vai.
Quanto a Sardenberg, para encerrar, acho que agora ele faz jus ao Prêmio Ig-Nobel de Economia — uma paródia consagrada do Nobel — pela sua fantástica teoria sobre a Grécia.