O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ofereceu o “inquérito todo” da Polícia Federal sobre as urnas eletrônicas a seus ministros e a qualquer interessado, durante uma reunião realizada em 5 de julho. Essa revelação veio à tona após a investigação da PF, que culminou em uma Operação Tempus Veritatis, realizada na quinta-feira (8), com mandados de prisão e buscas contra indivíduos próximos a Bolsonaro, suspeitos de planejar uma tentativa de golpe de estado.
O inquérito em questão estava em sigilo e investigava um ataque hacker ao sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo relatos, o documento foi vazado para Bolsonaro pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordem da Presidência, e o ex-presidente o utilizava como base para questionar a segurança das urnas eletrônicas.
“Eu tenho documento aqui (o inquérito sigiloso da PF). Quem quiser, só pedir para mim. Não pede pro ajudante de ordem, pode pedir para mim que eu entrego o inquérito todo”, afirmou Bolsonaro durante a reunião ministerial.
Veja a reunião na íntegra:
O vídeo na íntegra da reuniao do Bolsonaro que o STF disponibilizou aqui. Divirtam-se: pic.twitter.com/UQLOhVsAoD
— Jéferfon Menezes (@JefinhoMenes) February 9, 2024
A reunião contou com a participação dos então ministros Anderson Torres (Justiça), Augusto Heleno (GSI), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) e Walter Braga Netto (ex-Casa Civil), e a investigação encontrou a gravação da íntegra com Mauro Cid.
No entanto, mesmo após a divulgação do inquérito por Bolsonaro, o delegado responsável pelo caso negou ter encontrado indícios de fraude nas urnas eletrônicas. Esse vazamento provocou uma investigação sobre a divulgação de documentos sigilosos.
A partir dessa investigação, a PF descobriu evidências relacionadas a outros crimes, como a modificação no cartão de vacinação de Bolsonaro, o desvio de presentes destinados à Presidência e, mais recentemente, a tentativa de golpe de estado, levando à operação realizada na última quinta-feira.
Na reunião, Anderson Torres, então Ministro da Justiça, reforçou os ataques à credibilidade do sistema eleitoral, afirmando que “o outro lado joga muito pesado, senhores” e fazendo ilações sem provas, relacionando o PT ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
Já o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, mencionou conversas sobre a infiltração de agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nas campanhas eleitorais, destacando a necessidade de antecipar as ações golpistas.
“Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”, disse Heleno na reunião, segundo a PF.
Em reunião, Augusto Heleno fala em infiltração da Abin para “acompanhar o que os dois lados estão fazendo”.
Ao relatar temor de vazamentos, General foi interrompido pelo então presidente Jair Bolsonaro, que pediu para que conversas sobre a Abin fossem feitas de forma reservada.… pic.twitter.com/EDWFHvM7AW
— Metrópoles (@Metropoles) February 9, 2024
“Eu acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. E vai chegar a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro”, completou.
O vídeo revela ainda Bolsonaro sugerindo que ações enérgicas fossem tomadas antes das eleições, indicando que chegaria um momento em que não seria mais possível falar, mas apenas agir contra instituições e pessoas.